Atravessar o oceano com a sua tripulação enquanto procura por tesouros escondidos, ou toma por força o que outros navios tiverem no que era a maior expressão de liberdade durante os séculos 16 e 17. Os piratas são um tema popular no imaginário das pessoas, mas também é muito curioso que não seja um tema frequentemente explorado no universo gamer.
O ápice da popularidade do gênero no entretenimento no geral aconteceu durante os anos de 2003 a 2007, se iniciando com o lançamento do aclamado Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra. A série de filmes estrelados por Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley são até hoje os live-action de maior sucesso da Disney, que não sejam uma espécie de remake de alguma animação do estúdio ou filme da Marvel.
Levemente inspirado na atração dos parques da Disney de mesmo nome, Piratas do Caribe foi uma febre dos anos 2000, principalmente por conta do carisma de Johnny Depp como Jack Sparrow, desculpa, Capitão Jack Sparrow, a química entre ele e os outros protagonistas, junto de um enredo um pouco mais sombrio para um filme da empresa do Mickey Mouse para a época, foram a fórmula perfeita para o sucesso.
A franquia é tão forte no imaginário popular, que foi aproveitada até mesmo em Kingdom Hearts 2. Enquanto o primeiro jogo não tem nenhum mundo da Disney de filme live-action, o segundo trouxe dois, mas o mundo de Piratas do Caribe com Jack Sparrow na party é muito mais icônico que a participação de Tron. Sem contar que a música de batalha utilizada, uma versão mais rápida e forte da música tema “He’s a Pirate”, é uma das melhores da franquia (e você pode ouvir no vídeo acima).
O mundo foi muito bem recebido pelo público de Kingdom Hearts, e ele fez um retorno triunfal em Kingdom Hearts 3. Dessa vez, até mesmo Sora, Donald e Pateta ficaram com um estilo mais realista, e o mundo conta com um divertido sistema de batalha naval e exploração embaixo d’água.
Apesar de todo o sucesso no mundo dos filmes, o mundo dos jogos nunca explorou com o mesmo afinco o gênero. Eu tenho certeza que a grande maioria das pessoas pensa no exato mesmo título quando o tema é mencionado: Assassin’s Creed IV: Black Flag ou talvez Sea of Thieves, mas raramente alguém lembrará de outros jogos de pirata de sucesso fora esses dois.
Assassin’s Creed IV: Black Flag foi lançado pela Ubisoft em 2013, e é claramente inspirado nas melhores histórias sobre pirataria, mas também acaba sofrendo um pouco com a própria identidade. Apesar de ser um jogo de pirata, ele também é a continuação de uma franquia sobre uma organização de assassinos que lutam contra a tirania nas sombras, e um tema não poderia estar mais distante do outro.
Para os que esperavam um Assassin’s Creed, Black Flag tem pouco conteúdo realmente focado na organização de assassinos, com Edward Kenway, o protagonista, apenas se juntando à ordem nos minutos finais do jogo. Para os que esperavam um título focado em aventuras de pirata, algumas mecânicas típicas da franquia e partes da história também atrapalhavam um pouco a experiência completa de um jogo de pirata.
Qual foi a solução encontrada pela Ubisoft para esse problema? Criar uma franquia própria para um jogo de pirata, mas apesar do hype criado pela proposta na E3 de 2017, hoje em dia nós sabemos como essa história acabou.
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Sea of Thieves até conseguiu ficar popular, mas Skull and Bones…
Inspirados pelo sucesso de Assassin’s Creed IV: Black Flag e pelo próprio Piratas do Caribe, a Rare teve uma ideia boa, mas que acabou pecando pela execução original: um jogo multiplayer. Nesse título, você se juntaria a seus amigos em uma aventura pelos oceanos atrás de tesouros, com o objetivo de ser o homem mais temido dos sete mares.
Porém, o lançamento acabou sendo um pouco conturbado. Sea of Thieves era um jogo como serviço em uma época em que o conceito estava apenas engatinhando, então foi um choque para uma parcela de jogadores quando o título tão esperado veio tão… pobre em quantidade de conteúdo.
No agregador de notas Metacritic, Sea of Thieves tem apenas nota 69 da crítica e 5.6 de notas de usuários, que provavelmente não voltaram depois para aumentar a nota do jogo quando mais conteúdo foi lançado. A crítica exalta como o jogo é único, mas também citavam a falta de conteúdo, principalmente para a sua faixa de preço na época.
Ao longo do tempo e após muitas atualizações, o título de piratas da Rare conseguiu conquistar seu espaço e hoje em dia tem uma boa quantidade de jogadores fiéis, mas o lançamento problemático teve o seu peso em garantir que ele não conseguisse ser um marco no imaginário dos jogadores.
Com o clima mais leve de Sea of Thieves, e com seus gráficos estilizados, sobrou para Skull and Bones ser a experiência definitiva do gênero. Anunciado na E3 de 2017 com um trailer cinemático, o jogo da Ubisoft prometia ser mais sério e sombrio, o que criou muita expectativa nas pessoas que até hoje aguardavam por uma experiência definitiva de Assassin’s Creed IV: Black Flag.
Bom, nós sabemos que as coisas não acabaram muito bem com Skull and Bones. Com um desenvolvimento extremamente problemático, a equipe responsável pelo título constantemente mudava de direção e proposta. A base da ideia estava em um título já havia sido desenvolvido há anos pela Ubisoft, mas na tentativa de reinventar a roda, o jogo acabou se perdendo de uma maneira que mais nada poderia ser feito.
Skull and Bones teve o marketing de ser o primeiro jogo AAAA da história. O problema é que grande parte desse enorme orçamento não estava em sua versão final, o que fez o título ter um orçamento tão grande foram suas várias e diferentes versões que foram descartadas ao longo de anos de desenvolvimento caótico. O jogo lançou com notas ainda piores que Sea of Thieves, e com uma quantidade minúscula de jogadores: o seu auge de jogadores simultâneos na Steam foi de apenas 2000 pessoas.
Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii
É curioso como um gênero que teve tanta força no cinema não conseguir repetir o feito na indústria de jogos. Em breve, no dia 20 de fevereiro, teremos mais uma empreitada de piratas em Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, sendo um spin-off da franquia principal. Porém, assim como o mundo de Piratas do Caribe, apesar de bem feito, em Kingdom Hearts 3 não impulsionou o gênero, é difícil que um spin-off de Like a Dragon consiga o milagre de inspirar mais desenvolvedores a explorar o tema.
Sem contar que Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii não se passará no tempo do auge dos piratas, e sim nos dias de hoje, com Majima como protagonista. Com certeza será uma experiência muito divertida, digna da franquia no geral, mas ainda não é a experiência definitiva para aqueles que esperam um sucessor espiritual de Assassin’s Creed IV: Black Flag.
De acordo com rumores, a Ubisoft trabalha em um remake do título tão querido pelo público. Porém, se a empresa francesa conseguirá entregar um trabalho tão bom quanto o de 2013, considerando seus trabalhos mais recentes, é um mistério.
No final das contas, quem chegou mais próximo de uma experiência nível Piratas do Caribe acabou sendo Black Flag, mas ao mesmo tempo não é uma franquia focada em piratas, o que faz com que a indústria gamer realmente nunca tenha tido um “Piratas do Caribe” para chamar de seu.
Em um espaço que compete tanto com temas repetidos, como diversos jogos futuristas, RPGs medievais e entre tantos outros, é difícil imaginar porque um tema tão popular é tão pouco explorado.