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Análise | Sand Land

Sand Land, a adaptação para videogame do mangá homônimo de Akira Toriyama, era um dos lançamentos mais aguardados do ano, não apenas por mim, mas por muitos fãs da obra do autor. A promessa de uma adaptação fiel, a expansão do universo e a inclusão de uma nova história em uma região inédita, Forest Land, criaram uma grande expectativa.

Eu tenho que admitir que a ideia de um jogo de Sand Land me deixava com um pé atrás, pois mudanças sempre existem em adaptações, especialmente para jogos. Fazendo parte do grupo de fãs chatos de Dragon Ball que não aceitam muito bem mudanças bruscas nas obras de Toriyama, principalmente as feitas fora do controle dele, saber que o Mestre teve envolvimento direto em todo o desenvolvimento do jogo foi o suficiente para me manter interessado e dar uma chance ao título desenvolvido pela ILCA.

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Mas será que a ILCA e a Bandai Namco conseguiram atender às expectativas? Descubra nesta análise completa de Sand Land.

Apesar de fiel, Sand Land comete deslizes em tentativa de continuação

Muitos fãs diziam que Sand Land era uma obra extremamente difícil de ser adaptada para o formato de jogos, já que a história não tem muitos momentos de ação frenéticos, e a maioria das batalhas com tanques eram feitas de forma estratégica, tornando extremamente complicado capturar a essência do mangá e transformar em um jogo.

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Contrariando a todos, a ILCA consegue a façanha de adaptar o roteiro original de Akira Toriyama com maestria, em um RPG que expande o universo de Sand Land e adiciona novos personagens e elementos, enriquecendo o material original como um todo.

Sand Land conta a história de um mundo desértico, destruído pela ganância humana que resultaram em guerras, e hoje controlado por um Rei tirano que tem todo o controle sobre a água da região. Cansado disso, o Xerife Rao procura a aldeia dos demônios, trazendo uma proposta inusitada: um pedido de ajuda para achar um lago, que pode acabar com os problemas da região.

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Apesar de duvidarem da existência de que tal lago exista, Beelzebub, o príncipe dos demônios, decide ajudar o humano em sua jornada, levando o demônio Thief junto na aventura. O que parecia uma viagem simples ao sul, se torna uma jornada épica repleta de ação, drama, e muito bom humor, revelando segredos enterrados a mais de uma década no caminho.

Com cenas que parecem ter saído diretamente das páginas do mangá para a tela, é notável o amor dos desenvolvedores pela obra. Missões secundárias também ajudam a expandir o universo desértico de Sand Land, dando mais contexto a eventos da obra original e respondendo algumas perguntas deixadas em aberto.

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Apesar de algumas mudanças pontuais, em sua maioria para acomodar os novos personagens na história, tudo se mantém fiel, mesmo que alguns momentos emblemáticos do mangá tenham sido relegados a missões secundárias. Mas nada disso tira o brilho da jornada ao Lago.

Além do trio original, composto por Beelzebub, Thief e o Xerife Rao, a nova personagem, Ann, se encaixa perfeitamente no roteiro, sem parecer deslocada em momento algum, ficando de fora dos momentos mais importantes da história para não comprometer a fidelidade ao material original. Ann é uma mecânica carismática e misteriosa que se torna um membro indispensável do grupo, embora guarde um segredo que pode mudar a percepção de todos ao seu redor se revelado, e se torna peça chave para o novo arco de história, a grande novidade e um dos atrativos do jogo.

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Também podemos ver um pouco mais do passado de Rao, tornando o carismático Xerife um personagem ainda mais especial. Thief também ganha um pouco mais de atenção, se mostrando um demônio que legitimamente se importa com o bem-estar das pessoas, desde que ela não seja um membro do Exército Real de Sand Land.

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General Are e os Swimmers também ganham pinceladas a mais de atenção, sendo os responsáveis pela maioria dos momentos engraçados clássicos do roteiro original.

A trilha sonora também contribui e muito para a imersão, embora não seja nada espetacular, cumpre bem o seu papel, com músicas agradáveis, que passam bem a intensidade das cenas e que remetem ao clima desértico durante a exploração.

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Infelizmente, nem tudo são flores, e logo após a conclusão da história original, Sand Land comete um grande erro: uma continuação desnecessária.

Forest Land: Um Oasis Desperdiçado

A nova história, com cerca de 8 horas de duração, se passa em uma nova região e serve como uma continuação. Apesar da boa premissa, a história em Forest Land falha em capturar a essência do material original.

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Em contraste com o mapa de Sand Land, Forest Land apresenta grandes florestas, montanhas, animais como leões e abelhas, e água em abundância. Diferentemente da aventura original, não recebemos muitas informações sobre a região além do necessário para o avanço da história.

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Sem missões secundárias que explorem a vida na região, seu povo e seus costumes, a impressão é de algo feito às pressas, desperdiçando um imenso potencial.

A adição de missões secundárias poderia ter ajudado, seja dando mais informações sobre o passado da região e suas relações com Sand Land, ou sobre como as pessoas que não estão envolvidas no conflito vivem seu dia-a-dia. Tudo em Forest Land parece meio sem vida, por mais irônico que seja, tornando a exploração na nova área algo desmotivador.

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Apesar de ter seus momentos, o novo capítulo da trama acaba se entregando à ação desenfreada, deixando de lado momentos mais tranquilos e dramáticos, que para muitos, era o que tornava Sand Land uma obra tão especial. Não me leve a mal, o arco de Forest Land tem momentos que pegam nos seus sentimentos, mas é notável a queda na qualidade do roteiro e a mudança do foco para a ação desenfreada.

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A reta final da aventura se torna extremamente arrastada, com missões envolvendo objetivos repetitivos que te obrigam a ir de um lado a outro do mapa sem muito propósito, piorando a situação.

Com personagens mal apresentados e uma trama extremamente desinteressante, beirando o genérico, a tentativa de criar uma continuação é louvável, mas a execução ficou abaixo das expectativas, se tornando um capítulo esquecível e, em alguns momentos, entediante, completamente desconexo da história original, apesar de ter uma boa conclusão.

Mundo Aberto e Missões Secundárias

Sand Land é um jogo de mundo aberto, e como tal, missões secundárias e objetivos espalhados pelo mapa eram esperados. Os objetivos envolvem consertar torres de rádio, explorar cavernas, invadir bases de bandidos, realizar corridas contra o tempo usando os veículos do jogo e derrotar animais especiais. Tudo isso recompensa o jogador com recursos e peças para personalizar e melhorar seu veículos e robôs.

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Um dos objetivos do mundo aberto envolve o uso das mecânicas de stealth do jogo para invadir bases militares, que por muito, é o maior pecado de todo o jogo no quesito gameplay, As mecânicas de stealth são completamente desconexas do restante do jogo, se tornando uma atividade extremamente enjoativa e muitas vezes frustrante, ainda mais quando tais mecânicas são usadas em missões principais da história.

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Já as missões secundárias, além de recompensar com peças e materiais, também ajudam na expansão do universo de Sand Land, contando mais sobre as dificuldades das pessoas na região e respondendo algumas perguntas deixadas pela obra original.

Boa parte dessas missões secundárias tem como objetivo repopular a cidade de Spino, que se torna a cidade principal do jogo. Ao completar algumas missões, novas lojas são desbloqueadas na cidade, como um pintor que pode trocar as cores e adesivos dos veículos e um vendedor que retoma sua rota de suprimentos, melhorando os materiais que podem ser encontrados na vendedora de sucata.

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As missões de recompensa são o destaque entre os objetivos secundários, permitindo que o jogador cace bandidos procurados em troca de peças e veículos únicos. Tais caçadas proporcionam combates extremamente divertidos contra diversos tanques e outros mechas, sendo a maior fonte de estruturas para a construção de novos veículos.

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Se tornando repetitivas com o tempo, as missões e objetivos secundários pode se tornar um incômodo, principalmente se você, assim como eu, quiser conhecer mais do mundo de Sand Land, ficando refém de atividades repetidas e invasões em stealth extremamente frustrantes.

Masmorras opcionais, aqui chamadas de ruinas, também podem ser descobertas pelo mundo e exploradas, escondendo itens extremamente raros e poderosos, além de dar um pouco mais de profundidade sobre os povos que viviam em Sand Land antes de toda esse caos começar.

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Pimp my Tank

O combate com veículos e as opções de customização é o coração de Sand Land, me surpreendendo positivamente em todos os aspectos. O jogador tem a liberdade de trocar de veículo a qualquer momento, podendo usar sua caranga favorita para explorar, e rapidamente trocar para um robô mais parrudo ou um tanque caso necessário. As opções vão de tanques, robôs com propulsores para pulos mais altos, carros voadores e motos até robôs de combate com socos potentes, cada um com um gameplay único e extremamente divertidos.

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Com controle responsivos, embora um pouco confusos inicialmente, explorar o mapa de Sand Land destruindo tudo o que encontra pela frente é extremamente prazeroso. Muitas vezes eu me peguei andando sem rumo pelo deserto, apenas apreciando a exótica paisagem do mundo do jogo enquanto deixava um rastro de destruição.

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Tudo pode ser customizado, desde canhões, metralhadoras, até suspensão, motor, parachoques e estrutura dos chasis. Divididos em raridades de comum a lendários, a variedade de peças para cada um é bem extensa, mudando drasticamente o gameplay de acordo com a preferência do jogador. Prefere dano explosivo a longas distâncias? Um canhão com o cano mais longo, mas com dano reduzido, pode dar conta. Dano massivo a média ou curta distância é mais a sua praia? Um canhão de 16MM mais curto resolve seu problema.

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A customização não se restringe a performance e dano, também sendo possível mudar o visual da sua garagem. É possível alterar a cor de todas as peças individualmente, além de adicionar adesivos que são desbloqueados através de missões secundárias e pela história principal, possibilitando ao jogador criar o tanque dos seus sonhos. Ou apenas reproduzir a moto da Bulma de Dragon Ball, mas dessa vez com canhões e metralhadoras acopladas.

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Ainda sobre os veículos, me sinto na obrigação de elogiar o design dos robôs. Tudo é muito fiel não apenas a Sand Land, mas a outras obras de Akira Toriyama, trazendo uma carga de nostalgia muito forte graças a alguns designs que parecem ter saído direto de Dragon Ball e Dr. Slump.

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Combate corpo-a-corpo e árvore de habilidades

Apesar do foco ser o combate com tanques e robôs, a ação corpo-a-corpo também está presente, embora não tenha recebido o mesmo carinho. Funcionando com base em combos alternados entre ataques fracos e fortes, tudo se torna repetitivo muito rápido, mesmo com novos golpes e habilidades sendo desbloqueadas.

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Não apenas Beelzebub, mas todo o trio possui uma árvore de habilidades únicas, com diversas habilidades ativas e passivas. Enquanto as habilidades de Beelzebub se focam em aumentar o dano causado aos adversários e melhorar status, como vida ou a barra de Poder da Escuridão, Thief e Rao servem como suporte durante o combate.

Ao acertar golpes ou tomar dano, Beelzebub recupera parte da barra de Poder, que pode ser usada pra usar ataques especiais ou entrar no modo de fúria, ampliando o dano e o tornando invulnerável a maior parte de ataques inimigos.

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Rao tem habilidades focadas em auxiliar diretamente em dano, sendo possível chamar o auxílio de mais um tanque controlado pelo Xerife ou arremessar um spray de cabelo para confundir os inimigos.

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Já Thief tem habilidades focadas em roubar itens dos inimigos e coletar recursos, se tornando extremamente útil durante a exploração, podendo coletar todos os recursos visíveis no mapa com o toque de um botão graças a habilidade Seletor de Itens.

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Vale a pena jogar Sand Land?

Com cerca de 20 a 24 horas para completar a história principal, podendo chegar a mais de 35 horas para o 100%, recomendar Sand Land se torna extremamente fácil para fãs de longa data de obras de Akira Toriyama, apesar do deslize cometido com Forest Land. Reviver a jornada de Beelzebub e aprender mais sobre esse universo maravilhoso criado pelo Mestre Toriyama foi um prazer imenso, mesmo com seus defeitos, mais perceptíveis na reta final da aventura.

Para pessoas que nunca tiveram contato com nada de Toriyama, alguns problemas podem incomodar, principalmente as missões secundárias, que podem se tornar ainda menos interessantes caso você não tenha aquela fome por novos pedaços de história. Mas ainda assim, o jogo desenvolvido pela ILCA é, na minha opinião, uma ótima maneira de conhecer a obra e se apaixonar por ela.

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A cópia usada para essa análise foi gentilmente cedida pela Bandai Namco, jogada na versão para PlayStation 5.

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