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Análise | Tchia

TCHIA-001

Infelizmente, é difícil pararmos para apreciar certas coisas na vida. Quando se trata de videogame, a coisa fica ainda mais complicada, pois muitas vezes escolhemos títulos frenéticos para descarregar o estresse diário que a vida traz. Entretanto, alguns jogos têm a proposta de trazer sentimentos enquanto nos contam uma história que muitas vezes passa despercebida.

Recentemente, tive a sorte de passar algum tempo com Tchia, um jogo de aventura em mundo aberto sandbox da Awaceb. Situado em uma ilha inspirada na Nova Caledônia, o título tem a proposta de conta uma história fictícia de um pais e um povo com bastante referencias culturais e artísticas que irão fazer seu coração pular de alegria. Curioso para saber mais? Fique comigo que vou te contar.

Um Arquipélago paradisíaco!

Antes de começar essa análise, preciso explicar algumas coisas: Tchia não é um título para qualquer um. A equipe por trás dele explica logo no começo do jogo que seu objetivo é mostrar a cultura do arquipélago conhecido como Nova Caledônia.

Trata-se de um território francês localizado no Oceano Pacífico, a leste da Austrália. O arquipélago é composto por diversas ilhas, sendo a maior delas a Grande Terre. Com uma população de cerca de 270 mil habitantes, a Nova Caledônia é conhecida por sua beleza natural, diversidade cultural e por ser um importante centro de produção de níquel.

Tchia é feito em volta de contos e musicas do arquipélago, tudo é relacionado a esse paraíso paradisíaco e ter uma pequena noção sobre é essencial para ter uma melhor experiência com o titulo.

Uma história cultural

Confesso que, inicialmente, a história não me cativou. Achava tudo muito abstrato, apesar dos simbolismos e elementos culturais presentes na introdução. Entretanto, logo após o prólogo introdutório, as coisas tomam um rumo inesperado e me fizeram perceber que tudo foi construído daquela forma e estava perfeito.

Tchia é uma garota que mora em uma ilha isolada do resto do continente, completamente isolada da civilização. Seu único companheiro é seu pai, que lhe ensina tudo o que ela precisa saber, desde subir em árvores, nadar e até mesmo pilotar um barco. No entanto, para sobreviver, um velho amigo de seu pai leva mantimentos para eles todos os meses.

No começo, precisamos realizar algumas ações e recolher alguns itens para dar de presente ao amigo de seu pai (trocar presentes e dar oferendas é uma prática cultural em Nova Caledônia, introduzida aqui). Após recolher os três itens, eles se juntam em volta da fogueira para cantar e esperar o sol nascer novamente.

Porém, tudo vira de cabeça pra baixo, quando Meavora, um temível vilão que controla o arquipélago, captura seu pai e ao tentar correr atrás do seu pai, ativa um poder oculto fazendo com que se transfira para uma faca na bolsa do vilão o machucando, porém, sem muito sucesso, cai em mar aberto e desmaia.

Acordada pelo amigo do seu pai, é levada para sua casa, onde aprende um pouco sobre a história do arquipélago e lhe é dada a missão de ir resgatar seu pai.

Tchia, sem muita experiência, só com uma canoa, um poder recém-descoberto que não sabe controlar e muita coragem no coração, vai atrás do resgate de seu pai e trazer paz ao seu lar.

Não quero dar mais detalhes, pois as partes que se sucedem são mágicas. Muitos diálogos parecem poesias, das mais lindas que já ouvi, e as músicas transmitem sentimentos. A história irá cativá-lo logo de primeira.

Uma terra de segredos

Chegamos ao ponto onde, para mim, Tchia brilha: sua ambientação! A todo momento, senti-me em um filme da Pixar, tudo colorido e repleto de vida, com oceanos com vida marinha própria, biomas diferentes a serem explorados, cada um com sua fauna e flora característica, além de cidades com desafios e inimigos que parecem ter saído de um conto de Tim Burton.

Mas vamos por partes, primeiro preciso comentar sobre os gráficos, pois eles contribuem bastante para a construção da atmosfera paradisíaca em Tchia. No começo, pode ser estranha a modelagem dos objetos e das pessoas, pois lembra um pouco massinha, entretanto, essa estranheza passa e começa a se tornar encanto, pois, apesar de parecer simplista, o gráfico transmite leveza enquanto leva o jogador a querer explorar cada canto desse arquipélago.

Agora, podemos adentrar na ambientação em si, que é brilhante. Nova Caledônia é linda e foi muito bem representada. Ao se deparar com fotos na internet, você consegue identificar semelhanças reais, como o tamanho das ilhas e a localização dos diferentes biomas.

O mundo aberto não é particularmente grande, porém extremamente rico, e isso toma bastante tempo do jogador. Confesso que muitas vezes me vi parado no mesmo local por quase 1 hora, só explorando o ambiente e as possibilidades que poderia oferecer. E eu acredito que essa tenha sido a intenção da equipe com Tchia: fazer um jogo “livre”, não repleto de atividades, mas sim com inúmeras possibilidades de exploração.

Entretanto, nem tudo são flores com relação à exploração em Tchia, apesar do mundo ser muito bonito e convidativo a exploração, senti falta de atividades secundarias como para descobrir mais sobre a história dos habitantes ou para desbloquear áreas novas.

Seja o que você quiser

Então, em Tchia, você pode ser o que quiser, desde um coco até um tubarão, não há restrição. Confesso que adorava virar uma pedra e ficar rolando pelo mapa! Mas sim, essa é uma das habilidades da protagonista, chamada “Transmissão de Alma”, onde ela consegue pular para alguma pessoa, animal ou até mesmo objeto.

Porém, se você está achando que acaba por aqui, não senhor! Cada ser em que Tchia se teletransporta adquire poderes novos, como, por exemplo, quando você se transforma em um javali, adquire a capacidade de cavar. Quando se transforma em um peixe, consegue nadar mais rápido e não precisa voltar à superfície para nadar.

Entretanto, essas trocas de espírito não são ilimitadas e possuem um tempo de uso. Por exemplo, cada transferência no início do game é limitada a 3 ações específicas, como a do javali, que é cavar. Quando você cava 3 vezes, retorna a ser Tchia, e isso acontece com os outros seres do game, felizmente, essa mecânica é extremamente divertida e traz inúmeras possibilidades de exploração.

O game possui diversas mecânicas que precisam ser aprendidas a fim de progredir na história, todas diretamente relacionadas as tradições do pais como as canções feitas por meio de um minigame onde podemos desbloquear novas habilidades como mudar o dia para noite e muito mais.

Outro ponto importante é referente as atividades que devem ser feitas, apesar de serem bem diversas, não são chamativas como o empilhamento de pedras, que é bastante desafiadora, porém nada atrativa.

Apesar dessa falta de variedade, a exploração de Tchia é extremamente chamativa e mesmo com alguns problemas é digna de cada segundo investido.

Um game bem polido

Felizmente, não presenciei nenhum problema grave com relação à questão técnica. O game rodou de maneira tranquila, não é pesado e não tem altos requisitos.

Com relação à questão sonora de Tchia, tudo é impressionante. A dublagem é um charme à parte, cada personagem é dublado por um morador do arquipélago ou tiveram suas falas gravadas no local. As músicas são o mesmo, cada canção realmente existe e faz parte da cultura local.

E, por último, preciso ressaltar que esse não é um título feito para hitar ou um AAA. Foi um game feito por pessoas com amor, no intuito de levar a cultura do arquipélago para o mundo.

Vale a pena jogar Tchia?

Gostaria de concluir parabenizando a todos os envolvidos no projeto pela coragem e dedicação de não entregar apenas um produto e sim uma experiência. Pois foi esse sentimento que tive, não estava jogando e sim vivendo uma história e conhecendo uma cultura. Confesso que me senti lisonjeado.

Por esse motivo, se você está à procura de ter uma experiência nova. Se você está à procura de um momento para conhecer não só uma cultura, mas a si mesmo, jogue Tchia e aproveite cada segundo dessa linda história.

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