Crítica | Entre Facas e Segredos

Bons filmes de mistério chegam de tempos em tempos, mas poucos conseguem equilibrar uma história envolvente, criada com uma dose decente de humor, e respeitando a lógica do começo até o tão esperado desfecho. Felizmente, Entre Facas e Segredos está nesse grupo.

O longa conta o caso de Harlan Thrombey (Christopher Plummer), um escritor de sucesso que aparece morto em sua própria mansão. Os suspeitos são os residentes da casa, mas não para por aí: a tensão aumenta quando o reconhecido detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), é contratado anonimamente para investigar o caso.

Uma cena de crime, diversos suspeitos com motivos para cometer tal atrocidade e um detetive astuto. Se a trama te parece familiar, não é coincidência alguma: o diretor não esconde sua fiel homenagem aos livros de Agatha Christie.

O elenco é afiado e bem caracterizado — Daniel Craig, diga-se de passagem, quebra sua seriedade extrema dos filmes de 007 e consegue trazer um detetive com suas próprias peculiaridades. Todos os personagens têm escrúpulos e personalidades tão bem escritas que, mesmo com pouco tempo de tela, suas aparições são altamente críveis.

Mesmo com grandes nomes no elenco, é fácil acreditar em Craig como protagonista já que interpreta o super-detetive, mas não é bem assim. Ardilosamente, Rian Johnson traz os holofotes para Marta Cabrera (Ana de Armas), a amiga e enfermeira da vítima.

Entre atuação de ponta, roteiro e a direção do cineasta que fez um dos melhores episódios de Breaking Bad (‘Ozymandias’), existe outro nome fundamental na criação das cenas: Steve Yedlin. A maestria na cinematografia mostra a capacidade artística e visionária de Yedlin em manter sintonia com o enredo e a ideia de Rian Johnson — de interrogatórios a momentos de investigação, tudo é carregado com fotografias que agravam o mistério e a dúvida, revelando com precisão o necessário sem depender de diálogos verborrágicos.

Não suficiente, Johnson arca com o perigo de envolver um constante alívio cômico, mas não falha. As alegorias tornam o mistério mais palatável e enfeitam a produção com um clima agridoce de suspense e breves sorrisos.

Entre Facas e Segredos traz uma história empolgante no melhor estilo dos livros da renomada Agatha Christie. Cheio de reviravoltas, o enredo consegue ser imprevisível a todo momento e abusa de informações dúbias para ludibriar os espectadores mais atenciosos. A direção e o roteiro mostram como um filme pode ser engenhoso da primeira até a última cena, sem ganhar furos ou duvidar da sagacidade do telespectador e apresentar um desfecho leal a premissa, que aparenta simples, mas é ambiciosamente complexa.

Gostando de nossos conteúdos? Nos ajude compartilhando.

Gostando de nossos conteúdos? Nos ajude compartilhando.​

VEJA TAMBÉM

Comentários: