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Opinião | A toxicidade na comunidade de videogames

The Last of Us – Part II é o próximo grande lançamento do ano. Diversas pessoas aguardam ansiosamente para continuar a história com Ellie, mas algo aconteceu. Um vazamento revelou pontos críticos da trama e deu ênfase a uma discussão que já estava em pauta há muito tempo: a toxicidade na comunidade dos videogames.

Acontece, todo grande lançamento está suscetível a ataques. Ocorreu com Game of Thrones, Vingadores: Ultimato, com Hellblade e, agora, com The Last of Us. O problema, no entanto, não são os vazamentos, tampouco os spoilers: mas a vontade de destruir a experiência do outro propositalmente e a qualquer custo.

As redes sociais facilitaram a propagação de informações. É normal que pessoas assistam filmes, joguem ou vejam novos episódios de uma série antes e comentem nas redes, eventualmente expondo um amigo ou outro aos spoilers. O problema é quando essa naturalidade é quebrada e flerta com o sadismo de atacar alguém.

Quando noticiamos aqui sobre o assunto, sabíamos que viriam comentários com imagens e vídeos justamente do que vazou. Tentamos controlar para que ninguém acabasse vendo sem querer, mas não foi o suficiente. Em qualquer rede social ou portal que reúna a comunidade jogadora, diversos usuários enviarão incansavelmente spoilers de todas as formas possíveis, independente do tópico abordado na sessão de comentários.

Pouco a pouco, o caos se instaurou e a comunidade já estava repleta de discussões violentas cheias de ofensas durante argumentações desnecessárias: desde a imparável guerra de consoles até comentários políticos, misóginos e tudo que há de ruim para ser dito. Qualquer tema é poder de fogo por um simples, mas trágico vazamento que já estava difícil de lidar, tanto para a empresa quanto os jogadores. Não houve e ainda não há compaixão, apenas ódio e desalento, e muitas das vezes, motivados por grupos seletos que se denominam ‘fãs’ de uma marca específica.

Não foi sempre assim. Eu, como jogador assíduo desde meus seis anos, pude presenciar os dois lados dessa comunidade que cresce todos os dias.

Quando era menor, parti do Super Mario World ao Goldeneye, nas tardes de sábado com meu irmão. Cresci conversando sobre o quão difícil era o templo da água, em Ocarina of Time. Até hoje herdo boas memórias de vivenciar histórias extraordinárias criadas por pessoas extremamente talentosas, desde o drama em Valiant Hearts, da fabulosa aventura em Undertale e até os documentos de Fallout New Vegas. Jogos que até hoje tenho a trilha-sonora gravada no meu celular, como Neo Tokyo ou Mirror‘s Edge.

É triste ver como nem mesmo a comunidade dos jogos, essa que cria teorias gigantescas sobre alienígenas no GTA San Andreas, tutoriais inofensivos e partilham do mesmo anseio bem-humorado por lançamentos, esteja suscetível a desabar no ódio propagado por grupos que crescem e continuam crescendo com ofensas racistas, misóginas e envoltas em todo o tipo de preconceito.

Para você, leitor, pode parecer dramático, desnecessário. Entretanto, basta um comentário no lugar errado, uma notícia boa do console ‘rival’ ou até mesmo uma minoria e o caos se instaura novamente. O protagonista é gay? Negro? A resposta é previsível: “quem lacra não lucra”.

E olha que nem comentei sobre o rage em jogos competitivos, que também é muito presente (basta perguntar para qualquer jogador de League of Legends, por exemplo). Faça um teste e pergunte a si mesmo: se você acabasse de conhecer a comunidade dos jogos, nesse exato momento, se sentiria abraçado ou em uma zona de conflito?

É importante lembrar que os spoilers e as discussões fazem parte da internet agora. O problema é que deixou de ser um simples comentário inofensivo de alguém que estava empolgado demais. Agora, tudo é uma arma na mão de pessoas que só querem espalhar o desprezo em discussões que não levam a lugar nenhum. De repente, jogos estavam tão sensíveis quanto política.

Fico feliz de estar longe desse lado de uma comunidade que cresceu tão linda, mas tropeça frequentemente na vala do ódio gratuito.

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