Jogos de puzzle não são exatamente novidade na indústria, especialmente para os estúdios indie, que já nos entregaram verdadeiros clássicos como Braid, The Witness e The Talos Principle. Mas em meio a tantos jogos explorando um gênero nichado, Blue Prince nos mostra que ainda há espaço para a inovação.
Confira conosco a análise de Blue Prince, disponível dia 10 de Abril para PC, PS5 e Xbox Series X|S, também disponível day one nas assinaturas PlayStation Plus e Xbox Game Pass, com uma chave gentilmente disponibilizada pelo estúdio Dogubomb e a distribuidora Raw Fury!
Um roguelike fora do comum
Para começo de conversa, Blue Prince é um roguelike, mas ele é completamente diferente de outros jogos nesse estilo: você deve entrar na mansão de Mount Holly, mas não há nenhum cômodo, e você deve desenhar cada um deles para poder atravessar o local.
É um pouco complicado de explicar(afinal, Blue Prince é complicado e não esconde isso), mas cada cômodo possui características específicas: número de portas(para entrar e desenhar mais cômodos), custo em gemas, além de características específicas como puzzles, itens, ferramentas ou mecânicas que fazem coisas em outros cômodos, além de documentos que podem servir de dicas e dar mais detalhes sobre a lore.
Blue Prince é complexo, mas o aprendizado é chave
A mansão Holly tem 45 cômodos, e você, jogador, deve achar a Sala 46, o tesouro escondido da Mansão. Para isso, é importante se atentar a cada sala que você pode criar em uma saída, afinal sempre recebemos 3 opções de cômodos aleatoriamente, e essa é a parte “aleatória” do roguelike, que adiciona um fator replay imenso para Blue Prince.
De início, é esperado que o jogador se sinta perdido e sem saber muito como prosseguir, e atenção aos detalhes é um requerimento básico para quem se aventurar nessa casa estranha. Em todos os lugares, há itens para coletar, e a cada sala nova que você entrar, você perderá “passos”, que funcionam como sua energia. Se seus passos acabarem, ou você não tiver mais espaços para criar novos cômodos, seu dia está finalizado e você deverá recomeçar, desde o início, a sua jornada.
Claro, o jogo não é extremamente punitivo nesse sentido, e encerrar seu dia não significa muita coisa, no fim das contas. Contamos com alguns upgrades permanentes que podem aumentar os seus itens, adicionar novos cômodos ou fornecer a resposta para alguns puzzles, e mais importante, o conhecimento é sua principal ferramenta em Blue Prince.
Para além do conhecimento, há itens essenciais na jornada
Além dos “passos” já citados, há outros itens que serão úteis em cada aventura para dentro da Mansão: as moedas, que podem ser usadas para comprar itens; as gemas, que são usadas para “pagar” a geração de cômodos específicos; as chaves, que abrem algumas portas para novos cômodos aparecerem; e os dados, que “sorteiam” novamente os 3 cômodos disponíveis, caso nenhum deles tenha sido de seu agrado.
Não somente eles, mas outras ferramentas também diversificam a gameplay, como um detector de metal que facilita a obtenção de moedas, uma pá para desenterrar montinhos de terra com itens ou pistas, lockpick que pode destrancar as portas sem precisar de chaves, dentre muitas outras coisas que são mais divertidas de se descobrir sozinho.
Toda vez que você investigar algum documento ou prestar atenção em algum enigma, você estará progredindo. O jogo não é nenhum pouco linear e irá oferecer várias “rotas” e diferentes linhas de raciocínio para diversos pontos e puzzles diferentes, então um caderno ou outro objeto para anotar todas as suas descobertas e enigmas ainda não solucionados é praticamente uma obrigação.
O senso de progressão é bastante satisfatório
Em muitos roguelikes, ser derrotado e ter que recomeçar não dá a sensação de progressão, mas em Blue Prince isso raramente acontece: como tudo que você precisa é aprender mais sobre essa casa e as coisas que estão lá dentro, você quase sempre vai encerrar um dia sabendo mais do que antes, e juntando os pontos, você chegará mais perto do fim.
Blue Prince é bastante livre no sentido de deixar o jogador embarcar nesse mundo a sua forma. Não há apenas um jeito de chegar ao fim do game, e sua rota e as coisas que você descobrir muito provavelmente não vai ser a mesma que a de outros jogadores, o que é uma boa ferramenta para trocar ideias e discutir, ou até mesmo jogar em conjunto.
História profunda, mas interação com personagens é nula
Narrativamente, o jogo é um pouco escasso, mas a sinopse é clara: você foi o escolhido pelo dono da Mansão Holly para achar o maior enigma do local, a Sala 46. Claro, o jogo não é só sobre isso, e há muitas linhas narrativas envolvendo outros personagens e outros acontecimentos, alguns bem chocantes até.
No entanto, nada disso é explicitado no jogo, e há poucas(eu contei duas) cutscenes, e o diálogo é inexistente, afinal, só há você no local. Todos os fios narrativos são descobertos lendo documentos, vendo fotos e conectando pontos narrativos, o que pode deixar tudo um pouco confuso, afinal esses dados estão dispersos entre salas diferentes e você não irá obtê-los de uma forma linear.
Visual e música dão o toque final na atmosfera
Os gráficos do jogo são interessantes, apesar de ser um 3D charmoso, há um filtro na tela que dá a impressão de estarmos dentro de um quadro, e cada local transmite essa atmosfera colorida e artística, sendo simples e funcional, e sem grandes momentos de esplendor visual.
A trilha sonora é leve e ambiente, com poucas músicas em seu repertório, o que remete bastante à solidão e calmaria da atmosfera do game, entregando um trabalho delicado e que não se torna irritante mesmo com dezenas de horas despejadas no jogo, o que é um ponto positivo, mesmo que não seja algo que chame muito a atenção fora da jogatina.
O jogo é altamente profundo, mas restringe não falantes de inglês
Infelizmente, Blue Prince só está disponibilizado em inglês, e uma localização para qualquer idioma, inclusive o português brasileiro, parece bastante inviável, já que alguns enigmas brincam com o idioma inglês e um domínio do idioma é requerido para se passar alguns puzzles, mas mesmo assim, lembre-se de que pouca coisa é obrigatória, e até mesmo os enigmas que utilizam a língua podem passar despercebidos, já que há inúmeras formas de se chegar a enigmática Sala 46.
Blue Prince se destaca pela alta complexidade de seus puzzles e fios narrativos, conectando tudo de uma forma realmente primorosa. Claro, não é um jogo para todo mundo, e também não é um jogo curto, e não deve ser finalizado em menos de 10 horas, levando até 20 ou 30 para se chegar a Sala 46, isso tudo dependendo fortemente da ordem dos problemas a serem resolvidos e da facilidade com a qual você conectará cada enigma e solução, e eu consegui chegar ao fim em mais ou menos 17 horas de jogatina.
Blue Prince é diferente de tudo que você jogou
No entanto, nem mesmo o fim é o fim, pois o jogo não acaba ali. A profundidade e complexidade do jogo é algo realmente tremendo, e me faz pensar que uma pessoa sozinha jamais conseguiria resolver 100% dos mistérios de tudo. O fim é só o começo, e o post game de Blue Prince irá desenvolver ainda mais alguns enigmas e pontos apresentados durante o início da jornada, com diversos mistérios que vão ainda mais a fundo no jogo e parecem não ter um verdadeiro fim.
Em conclusão, Blue Prince é uma joia rara no mundo dos games, um jogo que conseguiu unir dois gêneros bastante distintos em uma obra realmente única, mas cujo desenvolvedor não ficou satisfeito apenas com isso, e foi ainda mais fundo em seu conceito, com enigmas e linhas narrativas extremamente fora da caixa.
Apesar de ser restrito a um público bastante específico, quem se encantou com essa proposta(como eu!) terá algo excelente em mãos, com um jogo que possui valor alto de rejogabilidade e com enigmas altamente engajantes e satisfatórios de se concluir, com tramas que não parecem ter fim e que podem levar centenas(sim, centenas!) de horas sem perder o ritmo.
O Review
Blue Prince
Um roguelike de puzzles altamente complexo, com loop de gameplay satisfatório onde cada rodada é produtiva e com mistérios que não parecem ter fim. No entanto, o alto nível de complexidade e a disponibilidade restrita a falantes de inglês pode afastar muitos públicos.
PRÓS
- Mistérios que entretem e são muito bem pensados
- É divertido anotar cada informação descoberta e usá-la no futuro
- Visual charmosinho e que não enjoa
- História interessante
- Jogo usa uma proposta não-linear, e cada jogador progredirá a sua forma
CONTRAS
- Não há interação humana, nem diálogos, e raras cutscenes
- O jogo pode ser bastante complexo de início
- Alguns puzzles são realmente um nível acima, sendo um grande filtro para algumas pessoas
- Jogo focado em falantes de inglês, pois há enigmas que requerem domínio da língua