Final dos anos 90. Quem viveu essa época nos games sabe o quanto alguns títulos marcaram uma geração inteira e, para mim, Commandos: Behind Enemy Lines, lançado em 1998, foi um desses marcos. Naquela época, não existia nada que se comparasse à combinação de estratégia em tempo real, furtividade e ambientação histórica tão precisa. Foi uma experiência transformadora, quase um ritual gamer da adolescência.
Por isso, quando Commandos Origins foi anunciado, confesso que fui tomado por uma mistura de entusiasmo e desconfiança. A nostalgia bateu forte, mas a memória também lembra que nem todos os capítulos da franquia foram felizes (alô, Strike Force). Agora, com o lançamento em 9 de abril de 2025, posso dizer, voltei no tempo.
De volta às raízes, com novos olhares
O nome não mente, Commandos Origins é, de fato, um retorno às origens. A proposta aqui é clara não reinventar a roda, mas sim lapidar aquilo que já funcionava lá atrás. O jogo funciona como uma prequela, narrando os primeiros passos dos personagens icônicos que marcaram a série.
Desenvolvido pela Claymore Game Studios e publicado pela Kalypso Media, o game entrega 14 missões distribuídas por locais históricos da Segunda Guerra Mundial, como a Noruega ocupada, o deserto africano e regiões fronteiriças alemãs. Cada missão é longa, complexa e projetada para te fazer pensar, nada de correria ou decisões impensadas. Aqui, o tempo é um aliado, não um inimigo.
E o mais interessante é perceber como o jogo respeita o DNA da franquia, cada personagem tem habilidades específicas, e combiná-las com precisão é a essência da vitória. O espírito tático permanece intacto, como se o tempo não tivesse passado.
Jogabilidade, o velho charme continua vivo
Se você jogou algum dos Commandos clássicos, vai se sentir em casa logo nos primeiros minutos. O foco continua sendo a furtividade evitar combate direto, usar o ambiente a seu favor e pensar sempre dois ou três passos à frente. Não que não dê para sair atirando, mas… é quase como usar um machado para abrir um envelope, vai funcionar, mas o resultado vai ser um caos.
Cada missão se desenrola como um quebra-cabeça, e a sensação de conseguir completá-la após vários testes e erros é, honestamente, viciante. Nada aqui é gratuito, cada movimento, cada distração, cada golpe precisa ser calculado com cuidado. E isso, mesmo em 2025, continua incrivelmente satisfatório.
O jogo atualiza algumas mecânicas, suaviza certos aspectos, mas o coração do sistema continua o mesmo e, nesse caso, isso é algo positivo. O estúdio entendeu que o público que esperava esse título não queria modernizações vazias. Queria desafio, inteligência e estratégia. E recebeu tudo isso.
Gráficos, evolução com moderação
Visualmente, Commandos Origins faz o necessário. Usando a Unreal Engine 5, ele entrega mapas bem detalhados, personagens convincentes e iluminação competente. Mas não espere um espetáculo gráfico de nova geração. Aqui, o objetivo é funcionalidade e imersão e nesse sentido, cumpre bem o papel.
Há um cuidado perceptível na recriação dos cenários históricos. Tudo respira a Segunda Guerra: das estruturas às roupas, das paisagens aos pequenos objetos no mapa. A ambientação é sóbria, sem exageros, e isso funciona bem dentro da proposta do jogo.
Não vai ser o jogo que você vai mostrar para os amigos como “o mais bonito do ano”, mas também não vai te tirar da imersão. E, sejamos sinceros, Commandos nunca foi sobre gráficos sempre foi sobre estratégia. E, nesse aspecto, entrega com louvor.
Para quem é esse jogo, afinal?
Se você é fã da franquia, não precisa pensar duas vezes. Commandos Origins é feito para você. Ele fala diretamente com esse público, com respeito, cuidado e sem tentar reinventar o que já funcionava. É um convite para voltar no tempo, mas com qualidade de vida moderna.
Agora, se você é um jogador mais novo, acostumado a jogos com ritmo acelerado, tutoriais mastigados e ação constante… talvez encontre aqui uma barreira inicial. A curva de aprendizado é íngreme, e a exigência de paciência pode frustrar quem busca gratificação imediata.
Ainda assim, é um título que vale ser conhecido. Há um charme atemporal na proposta de Commandos, algo que transcende gráficos ou tendências. É um jogo que exige do jogador, mas também recompensa como poucos.
Considerações finais
Commandos Origins é, acima de tudo, um projeto feito com carinho. Não tenta se moldar às expectativas de mercado, não tenta parecer algo que não é. Ele abraça sua identidade clássica e oferece uma experiência sólida, inteligente e desafiadora.
Claro, há pontos que podem ser ajustados, uma IA às vezes previsível, pequenas falhas de interface, mas nada que comprometa a experiência. No fim das contas, o que importa é que a essência está lá, tática, precisão e tensão. Exatamente como deveria ser. Um presente para os fãs, um convite aos curiosos e, quem sabe, uma porta de entrada para uma nova geração de estrategistas.
O Review
Commandos: Origins (PC)
Commandos: Origins é um retorno marcante às raízes da franquia clássica dos anos 90, trazendo de volta a jogabilidade tática em tempo real com foco em furtividade e estratégia. Servindo como prequela dos jogos anteriores, o título oferece 14 missões ambientadas em cenários históricos da Segunda Guerra Mundial, onde cada decisão exige atenção cirúrgica. Visualmente modesto, mas funcional, o jogo honra sua herança com mecânicas precisas e desafiadoras.
PRÓS
- Jogabilidade satisfatória
- Legenda em PT-BR
- Gráficos bonitos
- Fases desafiadoras
CONTRAS
- Mecânicas não intuitivas
- Poucas opções de acessibilidade