Review | Dune Awakening

O anúncio de Dune Awakening pela Funcom causou reações mistas, de um lado, a empolgação pelo retorno a um dos universos mais complexos e simbólicos da ficção científica, de outro, a dúvida quanto à viabilidade de transformar esse cenário em um MMO de sobrevivência, um desafio notoriamente ambicioso, especialmente em uma indústria marcada por promessas não cumpridas nesse gênero.

Lançado oficialmente em 10 de junho de 2025, Dune Awakening chegou de forma discreta, mas rapidamente se tornou tema de conversa entre os gamers. Algumas críticas são positivas, outras nem tanto. A seguir, uma análise do que o jogo entrega em sua estreia.

A primeira impressão em Dune Awakening

O jogo inicia colocando o jogador na pele de um prisioneiro abandonado em Arrakis um planeta desértico, inóspito e, ainda assim, hipnotizante. A narrativa se passa em uma linha do tempo alternativa, Paul Atreides não existe, e o conflito entre as Casas Atreides e Harkonnen assume contornos quase tribais. O objetivo é sobreviver e é justamente nesse aspecto que o jogo mais acerta.

Visualmente, Dune Awakening impressiona. Os gráficos são detalhados, com cenários que capturam bem a vastidão e a hostilidade de Arrakis. Cada elemento da textura das dunas às construções das casas nobres, contribui para uma ambientação imersiva. A trilha sonora, discreta e atmosférica, complementa essa construção de mundo de forma eficaz, reforçando a sensação de isolamento e tensão constante. Trata-se de um jogo que, mesmo com seus problemas pontuais, consegue prender a atenção por horas a fio, seja explorando o deserto, aperfeiçoando construções ou apenas observando o ambiente se transformar ao redor.

O jogo reproduz com fidelidade as tempestades de Coriolis, que alteram o mapa, e os vermes da areia, que representam ameaças reais e não apenas adereços estéticos. A escassez de água não se limita a uma mecânica superficial; ela exige decisões éticas e estratégicas, forçando o jogador a considerar ações extremas para garantir sua sobrevivência.

Sobreviver é um ato político

A proposta de Dune Awakening vai além da simples ação. A sobrevivência exige planejamento, é necessário construir abrigos, pilotar veículos, estabelecer alianças, evitar ameaças e compreender o que ocorre ao redor.

O jogador tem liberdade para explorar o deserto de Arrakis, adquirir habilidades, fabricar armas e equipamentos, coletar recursos, enfrentar outros jogadores e lidar com perigos constantes, como vermes gigantes, tempestades e emboscadas. A progressão é ampla e começa ainda na criação do personagem, com o histórico escolhido influenciando nas habilidades iniciais, um detalhe que contribui para a imersão e sensação de pertencimento.

Não há um caminho único. É possível optar por ser um estrategista discreto, um guerreiro nômade ou até mesmo um arquiteto de fortalezas. Essa liberdade de escolha é um dos pontos mais sólidos do jogo.

Desafios no Horizonte

Apesar de seus méritos, o jogo apresenta algumas falhas. O sistema de combate, por exemplo, parece desconectado da intensidade do universo em que se insere. Seja corpo a corpo ou à distância, falta impacto e fluidez, o que compromete a imersão em momentos chave. Além disso, problemas técnicos ainda podem acontecer.

Mesmo considerando o tamanho absurdo do jogo, bugs como travamentos de veículos, quedas no mapa e falhas inesperadas afetam a experiência. Outro desafio é o equilíbrio entre os gêneros de MMO e survival. Em vários momentos, o jogo oscila entre uma estrutura típica de RPGs lineares e um sistema de sobrevivência mais aberto e dependente de grind. A coesão entre esses estilos ainda precisa de ajustes.

Território instável

Um dos aspectos mais desafiadores de Dune Awakening é sua proposta de um mundo em constante mudança. O mapa sofre alterações frequentes, tempestades movem dunas inteiras, zonas de perigo se expandem, e pontos de coleta de recursos deixam de existir ou surgem em locais distantes. Essa dinâmica exige que o jogador esteja sempre atento e disposto a se adaptar, o que, embora traga um senso de urgência e realismo, pode se tornar cansativo com o tempo. Não é incomum investir horas na construção de uma base apenas para vê-la comprometida por uma mudança no ambiente, obrigando a abandonar o local e recomeçar em outro ponto do mapa.

Existem sim, ferramentas que permitem transferir a base para uma nova área, mas o processo não é simples, é preciso reconstruir boa parte dos recursos, garantir energia suficiente para manter a estrutura ativa e lidar com o risco constante de degradação caso a manutenção falhe. Além disso, bases fixadas em regiões instáveis têm vida útil limitada, quanto maior a demanda energética, mais tempo elas permanecem de pé, mas, uma vez que essa energia se esgota, a deterioração é inevitável. Trata-se de uma mecânica que reforça a proposta nômade do jogo, mas que pode afastar jogadores que preferem desenvolver territórios duradouros. Ainda é cedo para saber se esse sistema será ajustado em atualizações futuras, mas é, sem dúvida, um dos elementos mais polarizadores da experiência.

Vale a pena jogar Dune Awakening?

Existe algo cativante em Dune Awakening. Seja pela fidelidade ao universo, seja pela atmosfera silenciosa e opressiva do deserto, o jogo proporciona momentos de pura imersão. Há cenas em que tudo parece se alinhar, o pôr do sol, a areia ao vento, um ornitóptero cruzando os céus… e a sensação de estar realmente em Arrakis se torna palpável.

Para fãs da franquia e entusiastas de jogos de sobrevivência complexos, Dune Awakening oferece uma experiência promissora. No entanto, quem procura combates dinâmicos e ritmo constante pode se decepcionar. Como em Arrakis, tudo aqui é transitório, desafios de hoje podem virar recursos amanhã. A Funcom já demonstrou, em outros projetos, capacidade de evolução e entrega de conteúdo relevante ao longo do tempo.

Além disso, Dune Awakening mostra-se especialmente eficaz em construir uma experiência que pode ser vivida em longas sessões. A combinação entre a vastidão do mapa, os ciclos climáticos, os sistemas de coleta e crafting, e a necessidade constante de adaptação torna fácil perder horas no jogo sem perceber. É um título que recompensa o envolvimento contínuo, com pequenas descobertas, decisões estratégicas e evoluções graduais.

Considerações finais

O sistema PvP ainda parece pouco definido. Em grande parte da experiência, a interação foi majoritariamente PvE. Em uma área marcada como PvP, por exemplo, o confronto se deu apenas com NPCs, com perda parcial de itens, mas recuperação possível. Ainda assim, o modelo atual de PvP pode não se encaixar bem no formato dos MMOs contemporâneos. É algo que demanda observação durante a gameplay.

Dicas para os iniciantes, leve água em abundância, mantenha-se leve e evite chamar atenção desnecessária na areia. E, se possível, escolha um lado. A neutralidade, em Dune, pode ser um caminho sem volta.

Em um cenário saturado por fórmulas recicladas e experiências genéricas, Dune Awakening se destaca por sua identidade própria e pela ambição de oferecer algo diferente. Com uma base sólida, atmosfericamente marcante e cheia de possibilidades, trata-se de uma obra que ainda está em construção, mas que, com o tempo e os ajustes certos, tem tudo para se tornar um sucesso dentro do gênero.