1997 foi o ano em que Final Fantasy VII, a aguardadíssima saga de RPGs japoneses ganharia seu primeiro título na então nova geração, com um mundo tridimensional, uma história complexa e uma jogabilidade de turno mais engajante que o de costume. O jogo foi um verdadeiro sucesso imbatível de público e crítica, sendo consagrado como um dos maiores clássicos de todos os tempos.
Como esperado, a comunidade gamer vem clamando por um remake do jogo há muito tempo, e desde então fomos pegos de surpresa com a notícia de que o que era um jogo, agora será separado em uma trilogia completa, causando grande comoção, positiva e negativa, acerca do novo projeto.
Com a primeira parte dessa experiência refeita tendo sido lançada em 2020, tivemos o lançamento da segunda parte, Final Fantasy VII: Rebirth, em 2024 exclusivamente para PS5. Com a chegada do título para os computadores no próximo dia 23, tivemos a oportunidade de jogar a versão completa do jogo em antecipado a convite da Square-Enix, e você confere agora nossa análise completa da versão para PC de Final Fantasy VII Rebirth!
Gameplay que mescla tradição com modernidade
Lá no PlayStation 1, Final Fantasy VII seguia o chamado Active Time Battle(BTA, em português), sistema que era de turnos, porém com uma barrinha que enchia com o tempo, permitindo a execução das ações após ficar completa, o que dava um dinamismo para as batalhas, já que a velocidade da barrinha dependia dos atributos de cada personagem e inimigo.
Desde o Remake de 2020, a gameplay tem se modernizado para atingir um público menos acostumado com os combates cadenciados, e agora os embates acontecem completamente em tempo real e em ação pura.
Como não poderia se esperar o oposto de Rebirth, aqui funciona de forma similar: você controla uma party de até 3 membros, podendo desferir ataques básicos que não dão muito dano nos inimigos, porém ao acertá-los, a barrinha de BTA enche gradativamente, de forma similar ao clássico.
Com o limite de 2 BTAs para cada personagem controlável, você pode usá-los a qualquer momento do calor da batalha para executar diversas ações, como usar uma habilidade específica do seu personagem, magias que custam Pontos de Magia, itens que são adquiridos pelo mundo ou em lojas, dentre outras que serão mais elaboradas abaixo.
As habilidades específicas do personagem dependem de vários fatores, como o próprio personagem, e também dependendo da arma e da matéria que o mesmo tem equipado, e também oferecem uma variedade grande, como dano físico, atordoamento, dano mágico de diversos elementos e de suporte, como cura e proteção, tudo isso sem custo de PMs.
Por falar em matérias, lá vai um assunto longo para os iniciantes no mundo de Gaia: as matérias são energia vital do planeta(mako) cristalizadas, que tem impacto tanto na história quanto em gameplay. Cada equipamento, seja uma arma ou armadura, tem soquetes nos quais você pode encaixar matérias e ganhar atributos provenientes delas.
Matérias são separadas em 4 tipos: magia, que fornece a magia ao personagem; habilidade, que também libera uma habilidade específica para quem a equipa; passiva, que dá um atributo que se aplica sem precisar ser manualmente ativada durante o combate; e o último tipo seria algo como “suporte”, que são as matérias azuis que conferem benefícios à outras matérias equipadas, como aumentar o grau de efetividade ou o raio de alcance daquela habilidade.
Podemos usar livremente essas matérias adquiridas em quaisquer personagens, a depender de quantos soquetes cada equipamento fornece, claro, e há um sistema de PA(pontos de habilidade), que são adquiridas ao fim de cada combate similarmente aos pontos de experiência, também fortalecendo o nível das matérias e deixando a sua magia ou habilidade ainda mais potente.
Sistemas complexos mas digeríveis
Apesar de bastante complexas e com uma diversidade grande de sistemas, as coisas se desenrolam de forma menos confusa, pois o começo do jogo é bem leniente com o jogador e não exige tanta otimização de equipamentos logo de início, permitindo a livre experimentação e adequação do jogador conforme a progressão natural do jogo.
Outro fator importante a se destacar no combate de Final Fantasy VII: Rebirth são as famosas invocações, que também são matérias um tanto mais específicas, que geralmente são adquiridas em grandes desafios ou momentos chave da história, e permitem ao jogador invocar uma entidade poderosíssima para ajudar de forma independente no combate, mas que também podem ser comandadas para golpes específicos ao custo de BTA.
Uma novidade é a opção de Sinergia, novas habilidades que podem ser desbloqueadas em uma árvore de habilidades que são usadas por dois personagens que estejam compondo a party, também executando um dano excepcional ou dando um grande buff para os personagens, funcionando de forma similar ao limite que cada personagem possui e pode descarregar após preencher sua barra respectiva.
História expansiva, porém confusa
Dando sequência ao grande gancho deixado pelo primeiro título, Rebirth continua andando nos passos do jogo de 1997, porém tomando suas liberdades narrativas e de direção da mesma forma que o Remake já havia indicado, e portanto, praticamente obriga o jogador a ter passado pela jornada de Cloud em Midgar no jogo de 2020 para que se possa acompanhar a história na sua íntegra.
Sem dar muitos spoilers(que podem impactar quem já jogou o clássico do PS1, inclusive), a história segue pilares narrativos bastante familiares, passando por Kalm, Junon, Costa del Sol, entre outros locais, mas em cada um desses arcos há pequenos indicativos de que as coisas não serão as mesmas, bem como cutscenes muito mais elaboradas mostrando cada faceta de cada personagem por completo.
É incrível ver personagens que antigamente só conhecíamos pelas suas caixas de texto sem voz tendo um trabalho de voz incrível, e apesar de ter jogado majoritariamente com vozes japonesas, tanto esta versão quanto a americana estão recomendadíssimas pois foi feito um trabalho excelente para todos os personagens, e o fato de ter legendas em português brasileiro não irá atrapalhar ninguém desta vez.
Tifa, Barret, Cloud, Aerith, e as dezenas de personagens que recebem frequentemente o holofote aqui são representados com muita alma, é fácil de se apegar a eles e cada um deles apresenta um desenvolvimento de personagem maravilhoso de se acompanhar, mesmo quando não são o destaque da trama, como a Yuffie.
A sensação de aventura que marcou muito dos Final Fantasies mais clássicos havia sido cada vez mais tímida nos títulos mais recentes da franquia, como XVI e o próprio Remake, mas aqui em Rebirth, esqueça isso: o clima do jogo está levíssimo, com muitos momentos divertidos e engraçados de interação dos personagens e até mesmo alguns vilões embarcam nessa onda.
Claro, isso não significa que o jogo virou uma festa da uva, o enredo ainda é relativamente sério e os momentos emocionantes e dramáticos não foram exterminados, mas Rebirth sabe que é um jogo e sabe dosar isso muito bem, afinal nem tudo precisa ser sombrio o tempo todo, ainda mais nessa franquia.
Uma surpresa para muitos fãs foi a inclusão de Zack Fair na trama, pois o personagem, apesar de muito importante para o desdobramentos dos acontecimentos gerais, não é exatamente um personagem que está presente na história original, coisa que Rebirth veio pra mudar. Eu, pessoalmente, achei que o arco narrativo trazido por Zack foi pouco recompensador para uma aparição tão polêmica, mas isso pode mudar a gosto do jogador.
Além disso, os múrmurios e Roche também tem presença garantida aqui, e a direção de Tetsuya Nomura e Naoki Hamaguchi pode ser um pouco complicada de digerir, especialmente pelo gosto dos diretores em apresentar mistérios que muitas vezes demoram a ter respostas, isso quando tem.
Mas apesar desses pormenores não serem a coisa mais direta do mundo, o núcleo principal da narrativa se desenrola de forma mais clara que o Remake, então pode-se dizer que houve uma melhora nesse aspecto.
Porém, é importante destacar que Rebirth não deixa tudo a panos limpos. Infelizmente, por se tratar da segunda parte de uma planejada trilogia, já sabemos que grande parte das questões levantadas aqui não são completadas por inteiro, e há muito pano pra manga que foi dado e aparentemente só teremos tais conclusões ao fim da trilogia.
O grande trunfo de Rebirth: os minigames
É cada vez mais comum termos RPGs, orientais e ocidentais, verdadeiramente massivos, e mesmo tendo ciência de que muitos deles gostam de quebrar o gelo com minigames opcionais com o único objetivo de divertir, é seguro afirmar que nenhum deles trouxe uma artilharia tão forte nesse quesito quanto Rebirth.
Para começar, temos o gigantesco Queen’s Blood, jogo de baralho que nos acompanha pelo jogo inteiro. Quem jogou The Witcher 3 dificilmente não se aficcionou com o Gwent, e QB segue um caminho similar.
O jogo é simples e e as partidas são rápidas, e em toda grande cidade você terá oponentes à espera de um duelo intelectual. Não somente, mas também há um torneio no jogo e uma questline dedicada ao carteado com uma história extremamente legal de se fazer.
Apesar de termos diversos minigames durante a progressão normal do jogo e até mesmo alguns escondidos em sidequests, o grosso desse conteúdo está em algumas seções específicas que são um verdadeiro parque de diversões para quem quer desopilar após ver horas de cutscenes ou estresse após um combate suado de vencer.
Lutinhas de boxe virtual, corrida de chocobo, jogos de tiro ao alvo, batalha naval, tem de tudo um pouco aqui… seria uma tarefa hercúlea de descrever minuciosamente cada uma das diversas opções, mas saiba que é impossível não ter uma coisa que vai lhe garantir muitas horas de diversão.
Uma questão pertinente relativa aos minigames é que muitos deles estão inseridos diretamente na narrativa principal, o que pode ser um ponto positivo, mas também negativo em alguns aspectos. Primeiramente, é legal de ver que os minigames quase sempre contam com a interação de outro personagem da party para além do Cloud, então é uma interação narrativamente divertida, como ver o Red XIII jogando uma espécie de futebol.
No entanto, aqueles que estão afoitos pelo prosseguimento da história podem se sentir um pouco prejudicados ao terem que ouvir mais conversa fiada e aprender regras de mais algum minigame quando poderiam estar indo atrás do objetivo principal do jogo.
O que me chateou em certo momento foi ver diversos minigames sendo disponibilizados de forma opcional, e eu, claro, fui atrás de experimentar e me divertir com eles até cansar, dando então prosseguimento na história.
E então, seguindo a missão principal, foram apresentados novos minigames, dessa vez obrigatórios, o que acabou me estafando um pouco pois eu já havia me dado a liberdade de aproveitar a descontração, coisa que poderia ter sido facilmente remediada invertendo essa ordem de fases.
Visual e trilha sonora de darem show
Não é de hoje que Final Fantasy tem destaque pelos seus cenários espetáculares, direção de cutscenes e fotografia cirúrgicos e uma trilha sonora considerada uma das melhores de todos os tempos.
Em Rebirth não fomos privados desse show e o mundo inteiro respira arte, com setpieces que são verdadeiras pinturas, com ângulos que favorecem os personagens em contraste com os panos de fundo e são verdadeiros deleites pra quem gosta de tirar capturas de tela, mesmo que o Modo Foto embutido no jogo seja, por sua vez, bem básico.
Infelizmente essa busca pela estética acaba prejudicando às vezes, com corredores feitos para apreciar a paisagem que podem não agradar quem só quer mais combate e mais história, além de alguns locais serem bem diferentes das suas versões clássicas, até mesmo sendo um pouco sem sentido, em busca do espetáculo visual, o que pode agradar alguns e desagradar outros.
A trilha sonora dispensa comentários, mas vale aqui o reforço: os compositores deram o suor e sangue para fazer uma trilha de respeito e em raros momentos não entregaram o esperado com satisfação.
Claro, é natural que muitas trilhas sonoras sejam meros rearranjos e remixes da já imortalizada trilha original, o que perde um pouco do fator novidade, mas em todo momento que coube espaço para uma música nova, não deixaram a desejar.
Tudo que o mundo aberto tem a nos oferecer
Final Fantasy VII: Rebirth não nos poupa de oferecer um vasto mundo a explorar desde o início da jornada, mesmo que outras regiões e atividades só venham a figurar depois de um certo tempo de progresso.
Infeliz ou felizmente, FF Rebirth não rompe com as atuais tradições de jogos mundo aberto, e aqui temos a presença das famosas torres, necessárias para que se desbloqueiem mais partes do mapa e mais atividades alternativas estejam vísiveis.
É bom ressaltar que boa parte dessas atividades estão ligadas a combate, então vá preparado com suas melhores armas e matérias para muita luta, o que inclui enfrentar monstros endêmicos de cada região para fins de pesquisa, monstros na entrada das torres e como parte das sidequests.
As fontes anímicas e os cristais de invocação são minigames bem simples, com as fontes revelando novos segredos pelo mapa, além de fornecerem lore sobre a geografia do planeta, enquanto os cristais servem para enfraquecer as fortíssimas invocações, que são confrontadas para que possam se tornar aliados de Cloud durante outras lutas do jogo.
A caça pelas protorrelíquias é outra atividade opcional e uma das mais diferentes, com minigames e outras atividades que não tem a ver com combate, mas que são divertidas de acompanhar e prometem encontros sensacionais para os fãs da franquia.
Chadley, o responsável pelas batalhas de VR do Remake, aqui está novamente, fornecendo tutoriais, lutas contra combinações de inimigos e contra as ferozes invocações, já citadas anteriormente. Como dito, tudo aqui é voltado para o combate frenético, então certifique-se de estar afim de muita luta quando for falar com o NPC.
Um detalhe bacana é que as sidequests, além de serem bem diversas e conterem histórias bacanas para os NPCs que tem pouco destaque, ainda possuem um dos seus companheiros específico como destaque, então você pode aproveitar outro lado mais descontraído da Tifa, da Aerith ou do Barret enquanto cumpre o chamado de um pobre necessitado.
Ainda na questão de interação com os integrantes do seu grupo, cada um deles possui um medidor de afinidade que pode ser aumentado conforme você dialoga positivamente com eles, faz suas sidequests ou até mesmo participa em eventos espalhados pelo jogo.
Claro, isso não é completamente pelo valor de face e pode levar a recompensas para os personagens que mais se aproximam de Cloud, então vale a pena investir na parte social, que também não toma muito tempo do jogador.
E a otimização no PC, como está?
Por incrível que pareça, Rebirth quebrou uma péssima tradição da Square Enix, trazendo um jogo que, além de verificado para Steam Deck, está rodando muito bem até em placas de entrada(da série 20 em diante), sem sacrificar muito da performance nem do visual esplendoroso.
Mesmo a Unreal Engine 4 sendo famosa por ser complicada de otimizar em mundos abertos, aqui vemos que a lição foi aprendida e o port está bem satisfatório e sofre pouquíssimo, pra não dizer nunca, de stuttering ou queda de frames, até mesmo nos confrontos mais cheios de efeitos visuais.
A tradução também está bem interessante, e apesar do uso de gírias e expressões mais informais, dá pra deduzir que eles seguiram essa abordagem adaptando direto do japonês, já que quem usa esses termos costuma ser a Yuffie e outros personagens mais joviais e extravagantes, sem descaracterizar ou perder a fidelidade usando memes ou coisas do tipo.
Uma reimaginação quase perfeita
Final Fantasy VII: Rebirth é massivo, ambicioso e mesmo com alguns tropeços, a proporção deles para as coisas que acertaram é abissal, sendo um título quase obrigatório seja para os fãs de longa data como até mesmo para quem pouco conhecia da história do ex-SOLDIER e sua trupe.
É compreensivo que exista uma cissão atual entre as novas empreitadas da Square Enix com os fãs de longa data que buscam um resgate das experiências clássicas de gerações atrás, afinal eu mesmo, em partes, compartilho desse anseio. Mas ao analisar e experimentar Rebirth pelo que ele é, e não pelo que poderia ter sido em alguma idealização, dificilmente há de se dizer que não foi feito um trabalho extraordinário e com muita alma neste jogo.
Esse review de Final Fantasy VII Rebirth foi escrito através de uma chave do jogo para PC, gentilmente disponibilizada pela Square-Enix.
O Review
Final Fantasy VII: Rebirth
A continuação da reimaginação de Final Fantasy VII oferece um mundo gigantesco com um enredo e personagens divertidos de se acompanhar, e os poucos deslizes em ritmo e direção se esvaem comparados ao que esse jogo realmente acerta em recriar uma aventura clássica de JRPG.
PRÓS
- Combate divertido e complexo na medida certa
- História realmente interessante, com personagens que são carismáticos e dão emoção
- Cenários incríveis e trilha sonora sem igual
- Otimização no PC está muito boa, com poucos deslizes
- Trabalho de voz muito bem feito e tradução bem adaptada do texto japonês
- Leque gigantesco de minigames para todos os gostos
CONTRAS
- A direção e alguns arcos narrativos um pouco confusos, especialmente para os menos acostumados
- Ritmo da história não tem constância, sendo frequentemente trancado por corredores e minigames obrigatórios