Os jogos da Marvel são, em todos os sentidos, complexos. Quando se trata de uma aventura completamente single-player, na qual enfrentamos uma jornada com início, meio e fim, personagens cativantes, trama envolvente e desenvolvimentos bem construídos, temos uma das melhores experiências que os estúdios conseguem proporcionar com os personagens da editora. Alguns desses títulos incluem Marvel’s Spider-Man, Marvel’s Guardians of the Galaxy e até mesmo um clássico do PlayStation 2, Marvel: Ultimate Alliance. Todos são títulos independentes que oferecem excelentes experiências para jogadores solo.
No entanto, quando o assunto são títulos multiplayer, parece que os estúdios enfrentam dificuldades em entregar trabalhos de qualidade baseados nas obras da editora. Um exemplo notório é o desastroso Marvel’s Avengers, que, apesar de ser concebido como um jogo single-player, apresentava diversos elementos multiplayer que acabaram tornando o título extremamente problemático. Esse hibridismo fez com que o jogo não conquistasse a simpatia dos fãs, mesmo contando com um elenco de peso e aproveitando o sucesso do universo cinematográfico da Marvel.
Com essa contextualização, chegamos finalmente a 2024, ano em que Marvel Rivals foi lançado. Trata-se de um jogo multiplayer competitivo no qual os jogadores se enfrentam em arenas de 6 contra 6, com o objetivo de realizar uma ou mais missões. Muitos receberam o título com desconfiança, especialmente porque o principal concorrente imediato, Overwatch 2, apresenta números extremamente baixos na Steam, e outro potencial competidor, Concord, foi um fracasso comercial tão grande que foi descontinuado menos de um mês após seu lançamento.
Em parceria com a NetEase Games, um estúdio chines, Marvel Rivals foi oficialmente lançado no dia 6 de dezembro. Mas o que este jogo nos trouxe? Descubra nesta análise completa.
Uma aposta alta e perigosa
O gênero de hero-shooter é um dos mais instáveis e voláteis do mercado. Com basicamente dois títulos de sucesso, Overwatch 2 e Team Fortress 2, e um fracasso estrondoso, Concord, muitos ficaram surpresos ao saber que Marvel Rivals apostaria nesse segmento. A primeira pergunta que surgiu foi: como eles adaptariam o mundo de super-heróis e vilões para uma jogabilidade em primeira pessoa? A resposta curta é: não adaptariam. O jogo funciona inteiramente em terceira pessoa, mesmo sendo um título de tiro (shooter), e, apesar da estranheza inicial, todos os sistemas do jogo funcionam muito bem. Alguns personagens, como a Viúva Negra, possuem modos de disparo em primeira pessoa para atender ao público que prefere esse estilo.
Já que mencionamos os personagens, o jogo foi lançado inicialmente com 33 heróis e vilões divididos em três classes distintas: Vanguarda, Duelista e Estrategista, equivalentes aos arquétipos mais conhecidos de Tank, DPS e Suporte, respectivamente. A seleção de personagens foi pensada para aproveitar o hype dos universos cinematográficos da Marvel (UCM e Aranha-Verso), além de incluir figuras das HQs que ainda não tiveram seu devido destaque. O elenco inclui quase todos os Guardiões da Galáxia, os Vingadores, o núcleo do Homem-Aranha (com Peter Parker, Venom e Peni Parker), os X-Men e outros personagens mais isolados, como o Justiceiro, Luna Snow, e Manto e Adaga.
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Visualmente, cada personagem é uma obra de arte, com designs que misturam elementos das HQs e dos filmes, resultando em repaginações e visuais únicos. O visual do Wolverine, por exemplo, é um exemplo magistral de como reimaginar um personagem sem perder sua essência. A aposta da Marvel em trazer um jogo multiplayer foi ousada, e o cuidado com os visuais certamente ajudou a atrair muitos jogadores.
Entretanto, o destaque do jogo não se limita apenas aos personagens. Os cenários são deslumbrantes e bem projetados, facilitando a memorização e garantindo uma navegação fluida durante as partidas. Os mapas oferecem espaço suficiente para que os personagens realizem suas manobras exclusivas: as aranhas podem se balançar por teias, o Homem de Ferro pode voar livremente e o Hulk pode executar saltos de grandes distâncias. Tudo isso é viabilizado pelos mapas amplos, que mantêm o formato de arena de combate sem perder a complexidade
Outro detalhe impressionante é o sistema de destruição dos cenários. Em alguns casos, é possível destruir apenas algumas paredes, que se regeneram após um tempo; em outros, é possível alterar permanentemente a geografia do mapa até o final da partida. Isso abre novas áreas para exploração, flanqueamento e planejamento de armadilhas por ambos os times, tornando o ambiente de jogo dinâmico e estratégico.
Gameplay caótica, porém divertida
Não há outra palavra para descrever este jogo que não seja “caótico”. São tantos projéteis, habilidades e elementos acontecendo simultaneamente na tela que, por vezes, pode ser difícil compreender exatamente o que está ocorrendo ou se suas ações estão realmente contribuindo para a partida além de simplesmente disparar. No entanto, mesmo com toda essa confusão, jogar Marvel Rivals é incrivelmente divertido. Os controles são responsivos, os personagens estão — em sua maioria — bem balanceados, e é relativamente fácil identificar inimigos e aliados, evitando que você acabe disparando contra seu próprio time em momentos de desespero.
Como se trata de um confronto 6 contra 6, vencer sozinho é praticamente impossível. Assim, um nível mínimo de coordenação entre os membros do time é indispensável. Para facilitar, o jogo oferece uma funcionalidade de comunicação por voz integrada ao time, conhecida como VoIP. Essa ferramenta pode ser extremamente útil para equipes que necessitam de maior coordenação. No entanto, jogadores mais experientes em jogos competitivos podem se comunicar de forma eficiente utilizando apenas o sistema de pings do jogo.
Cada personagem de Marvel Rivals possui um conjunto específico de habilidades, com variações em quantidade e complexidade. Esses kits oferecem uma ampla gama de opções para os jogadores, permitindo que utilizem as habilidades de forma estratégica nos momentos adequados. Nenhum personagem conta com recursos como mana para ativação das habilidades, o que torna essencial o gerenciamento dos tempos de recarga para maximizar o potencial de cada herói ou vilão.
Não satisfeitos com 33 personagens e seus kits de habilidades únicos, Marvel Rivals trouxe também o chamado sistema de colaboração, que consiste em combos específicos entre os personagens. Um exemplo é a interação entre Jeff, o Tubarão da Terra, e Luna Snow: quando ambos estão no mesmo time, Jeff ganha uma nova habilidade que permite disparar ataques de gelo em vez de suas clássicas bolhas de água. Essa alteração transforma seu dano de alvo único em uma explosão em área, aumentando sua utilidade como DPS, mesmo sendo um personagem naturalmente voltado para suporte.
Esses combos podem envolver até três personagens simultaneamente. O trio de aranhas, por exemplo, possui uma interação especial, enquanto alguns membros dos Vingadores, como Thor, Capitão América e a X-Men Tempestade, também compartilham um combo. É possível verificar cada combinação diretamente na tela de seleção de personagens, o que permite aos jogadores planejar estratégias baseadas nessas interações. No entanto, os combos não são indispensáveis para que a partida seja divertida, funcionando mais como um elemento adicional para enriquecer a jogabilidade.
Uma das características interessantes relacionadas ao número de jogadores nos times é a grande quantidade de combinações possíveis de composições. Idealmente, o jogo foi projetado para que cada equipe conte com dois personagens de cada função, mas, na prática, isso raramente acontece. Por não dispor de um sistema de fila por funções, como em Overwatch 2, Marvel Rivals enfrenta dificuldades em otimizar as composições das equipes.
Essa situação ocorre principalmente porque a maioria dos personagens mais populares e “divertidos” — por falta de termo mais adequado — pertence à categoria de DPS. Como resultado, muitos jogadores sequer consideram escolher tanks ou suportes, o que pode condenar sua equipe à derrota, mesmo havendo a possibilidade de trocar de personagem durante a partida.
Essa falta de equilíbrio pode frustrar os jogadores que preferem equipes mais balanceadas. Contudo, há esperança de que, no futuro, a NetEase Games implemente um sistema de fila por funções para aprimorar essa dinâmica.
E quanto a monetização?
Por se tratar de um jogo online gratuito, a pergunta inevitável é: como será a monetização do jogo? Afinal, é necessário que a empresa lucre de alguma forma. A resposta é bastante simples: através da venda de skins e passes de batalha. Contudo, há uma diferença interessante no sistema de passes deste jogo. Caso o jogador não consiga completar um passe durante o período estipulado, não será necessário comprar o passe subsequente. Essa regra se mantém até que o passe em aberto seja concluído. Além disso, o passe oferece uma ou mais skins gratuitas, dependendo de sua extensão.
Além dos passes de batalha, o jogo conta com uma ampla variedade de skins para os personagens. Cada um possui, no mínimo, duas opções de skins além do visual padrão. Os preços variam, mas, em média, cada skin custa cerca de R$ 50 a BR$150. É importante destacar que essas skins são meramente cosméticas, servindo apenas para personalizar a aparência do personagem. Elas não oferecem nenhum tipo de vantagem ou atributo extra. Portanto, cabe ao jogador decidir se vale a pena investir esse valor para adquirir os itens cosméticos.
E ai? Marvel Rivals vale a pena?
Marvel Rivals foi uma surpresa que pegou muitos desprevenidos. Com números impressionantes na Steam e conquistando uma base de fãs cada vez maior, seria insensato afirmar que o jogo não vale a pena ser, pelo menos, testado e comentado com alguns amigos. Se você é um jogador assíduo de jogos competitivos, certamente apreciará o título. Caso prefira algo mais casual, o jogo também tem potencial para oferecer diversão e entretenimento.
A Marvel Games e a NetEase Games fizeram um excelente trabalho no lançamento inicial do jogo. Com novos personagens já programados para serem lançados no futuro, além de patches de balanceamento e melhorias na qualidade de vida, é provável que Marvel Rivals tenha chegado para ficar, conquistando uma base sólida de fãs por muitos anos.
O Review
Marvel Rivals (PC)
Marvel Rivals é um hero-shooter multiplayer competitivo em terceira pessoa que impressiona com seu elenco inicial de 33 personagens, mecânicas únicas de colaboração e visuais deslumbrantes. Apesar da ausência de fila por funções, o jogo oferece dinamismo nas partidas 6x6 e cenários interativos. Sua monetização é baseada em skins e passes de batalha, sem impacto na jogabilidade. Com números expressivos na Steam e atualizações planejadas, o título demonstra potencial para consolidar uma base sólida de fãs tanto casuais quanto competitivos.
PRÓS
- Excelentes visuais
- Gameplay fácil de se entender
- Jogo bastante divertido para casuais e competitivos
- Boa variação de personagens
CONTRAS
- Falta de dublagem
- Alguns personagens são desbalanceados
- Falta uma fila por função no jogo