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Análise | Os Portais da Casa dos Mortos, O Livro Malazano dos Caídos II

Review | Os Portais da Casa dos Mortos, O Livro Malazano dos Caídos IIOs Portais da Casa dos Mortos é o segundo livro da série O Livro Malazano dos Caídos, e se trata da continuação direta de Jardins da Lua, O Livro Malazano dos Caídos I disponibilizado ao público brasileiro em setembro do ano passado. O livro cuja autoria pertence a Steven Erikson, foi publicado originalmente em setembro de 2000 no Reino Unido, e por intermédio da Editora Arqueiro, chegou às livrarias brasileiras no dia 14 de abril, contando novamente com excelente tradução de Carol Chiovatto.

A história contada em “Os Portais da Casa dos Mortos” acontece alguns meses após os acontecimentos narrados em Portais da Lua e em outro continente.

Durante a leitura de “Os Portais da Casa dos Mortos” somos apresentados a novos e memoráveis personagens, que são construídos com a mesma complexidade e maestria observada em Os Jardins da Lua”. Além de acompanharmos os já familiares Kalan e Violinista, que desembarcam nas Sete Cidades em uma misteriosa missão, acompanhados por Crokus e Piedade, agora chamada de Apsalar.

O Império Malazano passa por mais uma onda de eliminação dos membros da nobreza, sendo que muitos deles são enviados como escravos para uma ilha na costa nordeste do continente das Sete Cidades, dominado há muito tempo pelo Império. Contudo, as Sete Cidade estão sendo consumidas por uma massiva rebelião conhecida como O Furacão, liderada a partir do “Deserto Sagrado de Raraku” pela misteriosa profetiza Sha’ik.

Essa rebelião avança a passos largos, e a união das principais tribos nativas das Sete Cidades, lideradas pelo inescrupuloso Korbolo Dom, um Alto Punho renegado do exército Malazano, avança impiedosamente colocando em cheque todas as posições Malazanas no continente.

Em meio ao frenesi sanguinário promovido pela Rebelião, os colonizadores e soldados malazanos seguem sendo cruelmente trucidados, a única resistência a esse massacre é estabelecida na cidade de Hispar. Nesta cidade, os soldados do 7° Exercito Malazano, sob o comando do Punho Coltaine, organizam uma evacuação em massa, conduzindo mais de 50 mil refugiados (nobres, idosos, mulheres e crianças) em uma penosa jornada de mais de 2.000 quilômetros até a capital malazana no continente, Aren.

Durante a nova onda de eliminação da nobreza promovida pela Imperadora Laseen, com o objetivo de eliminar os rivais diretos ao seu poder. Felisin, irmã mais jovem de Ganois Paran, é capturada e enviada como escrava para realizar trabalhos forçados em uma mina de Ortatal (metal resistente a magia), durante esse penoso suplício, ela estabelece uma relação de dependência com o taciturno Baudin e Herboric um historiador exilado e ex-sacerdote do Deus guerreiro Fener, que teve suas mãos decepadas como punição.

Review | Os Portais da Casa dos Mortos, O Livro Malazano dos Caídos IIOutro arco de eventos excepcionais aberto em “Os Portais da Casa dos Mortos” é protagonizado por dois dos personagens mais fascinantes e complexos apresentados até agora. Icarium, um mestiço jaghut, inventor e guerreiro imortal que busca desesperadamente recuperar suas lembranças perdidas, e do seu fiel companheiro, Mappo, um guerreiro trell encarregado de secretamente monitorar e controlar a fúria destrutiva de Icarium. Os caminhos de Icarium e Mappo vão cruzar uma intrigante corrida selvagem, onde furiosas batalhas entre Soletakens e D’ivers (espécies de metamorfos) buscam alcançar a Ascendência (divindade) e convergem implacavelmente no Caminho das Mãos, em direção a Tremolor, uma Casa Azath localizada no “Deserto Sagrado de Raraku” que possui características e origem aparentemente similares a que surge em Darujhistan.

Passado o choque inicial criado pela complexa narrativa empregada por Steven Erikson no primeiro livro da saga. Agora, já habituados ao estilo de narrativa e falta das costumeiras explicações por meio de flash backs e outros artifícios com o mesmo objetivo utilizado corriqueiramente nos livros clássicos de fantasia, a leitura da sua sequência acontece com mais tranquilidade e se torna realmente prazeroso coletar as pequenas informações e conjecturar a respeito delas no decorrer da história.

Se após Jardins da Lua, O livro Malazano dos Caídos I, tivemos a sensação de estarmos presenciando a construção de um universo verdadeiramente fantástico, único e magistralmente escrito, em “Os Portais da Casa dos Mortos”  esse pressentimento se consolida de vez, não deixando a menor margem para dúvidas. Diferente do padrão clássico das sagas de ficção fantástica, que exploram até não poder mais conceitos maniqueístas, Steven Erikson aborda sua narrativa de um ponto de vista mais verossímil e humano, de modo que nunca conseguimos decidir se as atitudes tomadas por determinados personagens é boa ou ruim, porque elas são um reflexo de pontos de vista e éticos diametralmente diferentes.

Review | Os Portais da Casa dos Mortos, O Livro Malazano dos Caídos IIE é chocante como o autor consegue narrar a dureza promovida por uma Guerra, que espalha indiscriminadamente o caos, e desperta o pior e o melhor dos que nela estão envolvidos. A única coisa que importa no final das contas para todos naquele turbilhão de acontecimentos é sobreviver, os conceitos de bem e mal, do que é certo ou errado passam a se curvar à essa necessidade primitiva. E Steven Erikson captura o pior e o melhor dos sentimentos e ações despertados em pessoas envolvidas nesses eventos e joga na nossa cara, sem piedade nem meias palavras. Se você ficou chocado ao ler o casamento vermelho descrito por G. R. R. Martin no terceiro livro de Game of Thrones, prepare seu coração, aquele evento vai parecer um passeio no parque em um dia ensolarado se comparado aos acontecimentos ocorridos em “Os Portais da Casa dos Mortos”.

“Os Portais da Casa dos Mortos” é um livro duro e chocante, que mantém uma excelente constância na qualidade de escrita em relação ao primeiro livro da série, ao narrar de maneira crua e impiedosa o lado mais sombrio e cruel de uma guerra, não deixando de lado momentos sublimes e tocantes que surgem em meio as situações mais improváveis, onde o melhor do caráter humano pode vir à tona. Não é um exagero dizer que, o que foi apresentado até agora o põe próximo ao patamar alcançado por J. R. R. Tolkien em o Senhor dos Anéis, e dois passos à frete de G. R. R. Martin.

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