Poucos personagens do universo de Shin Megami Tensei são tão marcantes quanto o devil summoner Raidou, um personagem recorrente na franquia que se popularizou durante a era do PS2 de SMT. Além das aparições especiais em SMT 3 Nocturne e no primeiro Soul Hackers, Raidou Kuzonoha se tornou mais conhecido pela sua aventura solo, Devil Summoner: Raidou Kuzonoha vs The Soulless Army, lançado originalmente para o o PS2 em 2006.
De lá pra cá, muitos fãs tem pedido para que a Atlus trouxesse o personagem de volta, e finalmente, nossos pedidos foram atendidos! RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army foi anunciado com a proposta de trazer a primeira aventura do devil summonner mais famoso da franquia, totalmente remasterizada para os consoles atuais e com importantíssimas melhorias de qualidade de vida.
Mas teria a espera pelo retorno do décima quarto Raidou valido a pena? As melhorias realmente tornaram o jogo mais palatável para os novos fãs da franquia? Descubra a resposta para todas essas perguntas e muito mais em nossa análise completa de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army!
RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army é o retorno de um clássico em sua melhor forma
RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army leva o jogador para o Japão durante o período Taisho (1912-1926), uma época onde o construções e vestimentas modernas trazidas pelos ocidentais e as tradições japonesas começaram a se colidir, criando uma estética única nas ruas das cidades da Terra do Sol Nascente. Em meio a essas mudanças políticas e comportamentais, os demônios começam a se tornar uma ameaça ainda mais perigosa para os humanos, apesar de boa parte da população sequer cogitar a existência real de tais criaturas e entidades.
Com o objetivo de proteger o mundo humanos, várias organizações secretas ao redor do mundo são criadas para combater essas forças demoníacas, se tornando encarregadas de treinar agentes com a capacidade de criar laços e invocar demônios, os chamados devil summoners, além de manter o segredo sobre a existência do submundo por gerações. Uma dessas organizações é a Yatagarasu, uma organização de devil summoners localizada no Japão, da qual nosso personagem faz parte.
Raidou Kuzunoha XIV
Em RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army assumimos o papel de um novo recruta da Yatagarasu, que está passando pelo seu último teste antes de se tornar o próximo agente da organização a herdar o título de Raidou Kuzunoha, um título que a 13 gerações é encarregado de proteger a Capital do mundo dos demônios.
Graças as habilidades acima da média demonstradas por nosso personagem, como a capacidade de invocar mais de um demônio simultaneamente, conquistamos o direito de herdar o nome do lendário Raidou Kuzunoha, e somos enviados para uma agência de detetives, que investiga atividades paranormais e serve como um disfarce da Yatagarasu.
Lá conheceremos Narumi, um detetive conhecido na cidade que é conhecido por aceitar casos ”estranhos”, graças a sua ligação secreta com a Yatagarasu. A chegada de Raidou a agência coincide com a ligação de uma garota interessada em contratar os serviços dos detetives, que insiste para encontrar com os detetives em uma ponte durante o anoitecer.
Durante o encontro com os detetives, a garota implora para que eles a matem, já que graças a uma maldição de sua família, seu corpo será possuído por um demônio em seu próximo aniversário. Antes que os detetives pudessem convencer a garota a desistir dessa ideia, uma grande névoa toma conta da ponte ehomens conhecidos como Red Capes sequestram a garota.
Quem são os Red Capes? Qual o segredo da família da garota sequestrada? Como tudo isso se conecta? Essas serão as perguntas que Raidou e Narumi precisarão responder caso queiram solucionar o caso, o que levará o devil summoner a se aventurar pelas ruas da Capital e pelo mundo dos demônios em busca de pistas sobre o paradeiro da colegial.
Dividida em capítulos, a trama de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army segue como uma boa e velha série investigativa, introduzindo vários novos personagens e pistas importantes para o caso aos poucos, deixando um gancho ao final de cada capítulo para motivar o jogador a começar o próximo logo em seguida.
Falando nos personagens, temos uma boa variedade de personagens secundários, indo desde membros da máfia até jornalistas e mecânicos de ferro-velho, levando a trama para todos os cantos da Capital. A grande maioria deles tem uma grande importância dentro da trama, sendo bem aproveitados durante toda a história e com um bom desenvolvimento.
A grande maioria dos diálogos possui dublagem, contribuindo para o desenvolvimento de cada um dos personagens, graças a uma boa atuação tanto para a dublagem em japonês quanto para a versão em inglês. Infelizmente, o game não conta com dublagens ou legendas em português, quebrando uma sequência de acertos da SEGA quando o assunto é localização para o nosso idioma, o que pode ser um grande ponto negativo para alguns jogadores que não compreendem muito bem o inglês.
A narrativa se mantém interessante do início ao fim apesar de possuir alguns altos e baixos, sendo o grande motor para manter o jogador engajado durante a aventura, sendo tão importante quanto, se não mais, que as mecânicas de combate e de exploração do game. Como todo jogo ligado a franquia Shin Megami Tensei RAIDOU Remastered não tem medo de tocar na ferida de alguns assuntos mais pesados de nossa sociedade, trazendo algumas reflexões importantes para a mesa.
O Japão da era Taisho
Por se tratar de um jogo em que encarnamos um investigador lendário, a exploração naturalmente se torna um elemento importante para dar liga a RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army. Teremos acesso a várias regiões da Tóquio do período Taisho, onde poderemos interagir com moradores locais que nos darão mais contexto sobre a vida cotidiana na cidade.
As áreas da cidades são conectadas por um mapa do mundo, que funciona de maneira parecida como o dos jogos principais da franquia Shin Megami Tensei, no qual nos locomovemos de uma área para outra controlado apenas um cursor de Raidou, podendo encontrar outras pessoas no meio do caminho que podem nos dar mais informações ou contexto sobre aquela região específica.
Também é através da exploração pelos mapas em que teremos acesso as missões secundárias, que são dadas por NPCs espalhados pelo mundo. De maneira geral, se tratam de casos menores que servem para expandir o universo, indo desde ajudar um gato que foi parar em uma árvore até ajudar um espírito perdido a encontrar a tão merecida paz após a morte.
Se tratando de um game da franquia Shin Megami Tensei, é claro cidade de Tóquio esconde um grande segredo: uma dimensão paralela na qual os demônios residem, chamada de Dark World. É nessa Tóquio sombria em que Raidou Kuzunoha XIV irá conhecer (e enfrentar) os demônios que rodeiam a população da cidade, sendo o local onde boa parte da ação irá se desenrolar.
Todos os bairros principais da cidade possuem a sua própria versão Dark, com ruas tomadas demônios, funcionando essencialmente como as dungeons do game, em que podemos ir e voltar delas quando quisermos. A exploração dessa versão alternativa de Tóquio se resume a encontrarmos demônios aleatoriamente pelas ruas, nos quais podemos atacar antes de iniciar uma batalha para obtermos uma vantagem inicial e buscar por itens escondidos.
Várias fendas chamadas de Aril Rift também estarão espalhadas por todo o mundo, sendo juntamente com as missões secundárias, o principal motivador para que os jogadores explorem cada canto da cidade atrás de segredos e itens poderosos. Cada Aril Rift possui uma horda de demônios baseada nos demônios que podem ser encontrados naquela região, que ao serem derrotados, recompensarão o jogador com experiência e itens raros.
Um ponto fraco herdado do game original, é que infelizmente não há muito o que explorar nos mapas além de encontrar missões secundárias e Aril Rift, que também se tornam mundanas com o passar do tempo. Apesar de existirem itens escondidos e algumas interações bem legais com alguns dos NPCs, não espere nada muito complexo no que diz respeito a exploração, já que, no final das contas, RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army é essencialmente um jogo de PS2.
Apesar dessas limitações, explorar essa versão de Tóquio é uma aventura muito prazerosa, principalmente para os amantes da cultura japonesa que tenham uma queda pela estética da era Taisho, já que os NPCs nos dão e as construções nos dão um bom contexto de como o contato com o ocidente influenciou a sociedade japonesa durante os anos 20, imergindo o jogador através de toda a atmosfera criada pela estética.
A trilha-sonora também contribui muito com essa imersão, trazendo boa parte das trilhas do game original remasterizadas (que são excelentes), fazendo com que o jogador realmente se sinta em um episódio de uma série japonesa, com muito jazz, batidas de rock e claro, alguns épicos, combinações que já são muito bem conhecidas dos fãs de Shin Megami Tensei.
Jack Frost, eu escolho você!
Apesar de ser um jogo de ação em que controlamos Raidou, é claro que os demônios são parte essencial de todo o loop das mecânicas de gameplay de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army. No controle de Raidou, podemos escolher entre 3 armas diferentes: katanas, lanças e machados, com cada arma possuindo um moveset e propriedades únicas.
Podemos executar combos que podem ser variados entre ataques fracos, ataques fortes e a utilização de magias de fogo, gelo, vento e os demais elementos já conhecidos da franquia. Porém, não espere nada muito elaborado, já que o sistema de combos é extremamente raso e sem muita variação. Apesar disso, as armas podem ser aprimoradas, permitindo adicionar efeitos e habilidade exclusivas conforme avançamos na árvore de evolução de cada uma delas.
Além dos ataques de Raidou, podemos invocar até dois demônios para a batalha, que também possuem habilidades únicas, que apesar de não podemos controlá-las diretamente, podemos dar comandos para que eles parem de usá-las durante momentos específicos.
Cada demônio possui habilidades e características diferentes como fraquezas ou resistência a certo elemento, status que favorecem ataques físicos ou mágicos, etc. Ao ganhar experiência e subir de nível, os demônios recebem um ponto de status que será utilizado em um atributo pré-determinado, diferente dos pontos recebidos por Raidou, que podem ser alocados onde o jogador preferir.
Os demônios também possuirão habilidades que podem ser utilizadas durante a exploração, sendo uma parte essencial do loop de gameplay de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army. Alguns demônios possuem a capacidade de voar, permitindo coletar itens ou chegar a locais distantes, enquanto outros podem fazer uso de força física para empurrar objetos, ou até mesmo utilizar suas habilidades de leitura de mentes para descobrir informações dos NPCs.
Podemos recrutar novos demônios durante o combate, desde que estejamos no mesmo nível ou acima do demônio selecionado e que o espaço de armazenamento de demônios não esteja cheio. Como qualquer game da franquia, também podemos fundir demônios para criar novas criaturas, podendo selecionar algumas das habilidades dos dois monstros usados como material para formar a build inicial do nosso novo monstrinho.
A remasterização traz alguns novos demônios que não estavam presentes na versão original do game, expandindo ainda mais as combinações e possibilidades de builds possíveis, além de claro, proporcionar horas extras de jogo para aqueles que planejam completar a compendium, aqui chamada de Devil Chart.
De maneira geral, as mecânicas de combate de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army não trazem grandes melhorias se comparadas ao jogo original, podendo se tornar um tanto quanto repetitivo com o passar do tempo graças a falta de variedade de combos, apesar do gameplay estar muito mais fluído e mais prazeroso de se jogar. A inclusão dos novos demônios é algo muito bem-vindo, já que acaba trazendo um frescor para os jogadores que já haviam jogado a aventura original.
Um aceno para o futuro
RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army é uma boa remasterização que não tinha como objetivo trazer muitas alterações ao jogo original, procurando se manter fiel ao game original de 2006 porém com leves mudanças e adições, o que honestamente, foi um grande acerto da Atlus. Apesar de algumas mecânicas que já eram consideradas um tanto quanto ultrapassadas em seu lançamento original, principalmente em relação ao combate, apresentar um dos grandes clássicos da franquia SMT para um novo público sem grandes mudanças é uma abordagem que me agrada.
É inegável o carinho colocado pelas desenvolvedores nessa remasterização, sendo notavelmente um game feito de fãs para fãs, sinalizando que muita gente dentro da Atlus parece ansiar tanto quanto os fãs por uma nova aventura inédita do detetive mais famoso do universo de Shin Megami Tensei. Apesar do apelo nostálgico para os velhos de guerra da franquia, RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army também cumpre muito bem o seu papel de um dos grandes clássicos da Atlus para uma nova geração de devil summoners, que agora podem se juntar ao coro da fandom de MegaTen que suplica por um possível Raidou 3 a mais de uma década.
Esse review de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army foi escrito através de uma cópia de review do game para PS5, gentilmente disponibilizada pela SEGA.
O Review
RAIDOU Remastered: The Mystery of The Soulless Army
RAIDOU Remastered: The Mystery of The Soulless Army acerta em se manter fiel ao game original de 2005, trazendo algumas melhorias de qualidade de vida e novos conteúdos mas sem alterar demais a experiência original. Apesar do combate continuar sendo o ponto mais fraco da primeira aventura solo do detetive paranormal, RAIDOU Remastered cumpre muito bem o seu papel de apresentar a franquia para uma nova geração de fãs e abraçar os fãs antigos que a muito tempo esperavam pelo retorno da franquia.
PRÓS
- Novos conteúdos agregam a experiência
- Gráficos bonitos e direção de arte original respeitada
- Boa trilha-sonora
CONTRAS
- Mecânicas de combate e exploração repetitivas