Visions of Mana foi um jogo que me pegou de surpresa quando foi anunciado, já que a mais de uma década a franquia não recebia um jogo totalmente novo. Apesar de haver muitos jogos entre os mais variados consoles, boa parte deles são remakes, ou até mesmo remakes de remakes de títulos lançados originalmente para consoles como o SNES.
Visando apresentar a franquia Mana para uma nova geração de fãs de RPGs japoneses, Visions of Mana também carrega a difícil missão de agraciar os fãs antigos com um capítulo totalmente novo, Visions of Mana prometia ser o jogo a finalmente colocar a franquia na boca dos amantes de jogos japoneses, assim como seu irmão mais velho Final Fantasy. Mas será que o objetivo da Square-Enix foi alcançado? Confira agora no nosso review completo de Visions of Mana!
Um mundo repleto de bênçãos e sacríficios
Você já parou pra se perguntar: qual o valor de uma vida? Até onde é válido se sacrificar pelo bem das pessoas ao seu redor? Pois é exatamente esse questionamento que Visions of Mana traz para a mesa.
Bem-vindos a um mundo abençoado pela Mana Tree, a árvore sagrada que é a fonte de toda a vida, berço de todos os elementos e o local onde as almas de nossos entes queridos que já partiram descansam até que, um dia, possam renascer. Nossa jornada começa em Tianeea, o vilarejo do fogo, onde todos estão se preparando para o ritual da escolha de um novo Alm.
O jogador assume o papel de Val, um jovem espadachim de Tianeea que treinou por toda a sua vida para se tornar um guardião conhecido Soul Guard, função essa que é respeitada por todos no vilarejo, já que tem a função de proteger os Alms. Após ajudar alguns aldeões durante o dia agitado em preparação para o ritual, Val vai de encontro a Hinna, sua gentil amiga de infância, para que juntos possam acompanhar as festividades.
O ritual que acontece de quatro em quatro anos tem a função de dar as boas-vindas a Faerie, um ser mágico que serve como mensageiro dos guardiões elementais. Faerie é a responsável por escolher um novo Alm, abençoando-o como o novo emissário do elemento do qual seu vilarejo é protegido.
Hinna acaba sendo a escolhida como nova Alm do fogo, e sua peregrinação rumo a Mana Tree deve se iniciar ao raiar do dia seguinte. Val como Soul Guard, tem a missão de proteger não apenas Hinna, mas também todos os Alms, já que a peregrinação envolve visitar todos os vilarejos elementais antes de seguir estrada em direção a árvore sagrada.
Porém, o que parecia ser motivo de festa e alegria inicialmente, se revela ser um fardo que poucas pessoas teriam a coragem e determinação de carregar.
Na verdade, Alms são pessoas escolhidas pelos guardiões elementais para oferecerem suas almas como sacrifício para a Mana Tree, já que, graças a sua conexão com Mana e os elementos, suas almas é o que acabam mantendo as bênçãos da Árvore no mundo. Caso um novo Alm não possa ser escolhido, por qualquer motivo, ou caso o Alm escolhido se recuse a completar sua peregrinação, seu vilarejo natal sofrerá graves consequências, como nos é mostrado logo no início do jogo, em que vemos o vilarejo de um Alm ser dizimado quando um casal se recusa a aceitar seu destino.
Ao decorrer da jornada, conhecemos Careena, Morley, Palamena e Julei, recém escolhidos Alms que se juntam a Val e Hinna para concluírem sua peregrinação. Todos os 4 personagens se tornam jogáveis, formando a party de Visions of Mana.
Com seus próprios problemas, visão de mundo e personalidade, a party de Visions of Mana é o que torna a história do título tão interessante, já que a evolução de todos os personagens ocorre de maneira bem natural, com cada personagem tendo um mini-arco de história que se encerra satisfatoriamente bem.
O companheirismo entre todos passa um sentimento de uma verdadeira road trip, algo que não eu honestamente não via ser tão bem executado desde Final Fantasy XV com Noctis e seus amigos. A evolução da amizade entre o grupo não se restringe as cutscenes, já que durante as sessões de exploração e até mesmo em combate, podemos ouvir diálogos comentando sobre algum ponto de interesse que acabaram de encontrar, pequenas piadas ou até mesmo questões sobre assuntos pessoais.
A partir de um certo ponto do enredo, o destino final dos Alms se torna o ponto central de toda a história, com discussões profundas a respeito do quão pesado é esse fardo.
Apesar de tratar isso com naturalidade inicialmente, diferentes pontos de vistas em relação a essa tradição começam a colocar dúvidas não apenas em Val, mas em todos do grupo.. Essas dúvidas se tornam o principal motor da história, ainda mais quando Val ouve falar sobre uma certa espada lendária, que dizem ser capaz de acabar com a necessidade de um sacrifício.
Mantendo a qualidade do começo ao fim, a história de Visions of Mana é repleta de ação, comédia, muito drama e, honestamente, foi um dos poucos jogos que me arrancou uma lágrima ao seu final nos últimos anos.
As belezas das bênçãos de Mana
Durante a jornada, passaremos por diversas regiões com diferentes biomas, como desertos, campos floridos e até mesmos montanhas gélidas. Visions of Mana segue um estilo mais tradicional de exploração, deixando o formato de mundo aberto de lado, adotando um sistema de vários mapas que se conectam através de uma ou mais entradas, funcionando como hubs.
Os visuais de Visions of Mana brilham durante a exploração, mostrando que não são necessários gráficos mais reais que a própria realidade para fazer um jogo bonito e que encha os olhos. Uma boa escolha de paleta de cores, filtros e direção de arte são na maioria das vezes muito mais eficazes em criar visuais extremamente bonitos, marcantes e únicos.
Além de belíssimos, todos os mapas são extremamente convidativos para exploração, oferecendo recompensas e desafios para aqueles que decidirem se desviar um pouquinho da rota para o próximo objetivo. Baús de tesouros, chefes secretos, ruínas e até mesmo desafios de tempo estão entre as atividades da qual o jogador pode perder vários horas ao explorar, sendo os dois últimos um dos principais motivos para fazer o jogador retornar a mapas já visitados, já que dificilmente você estará no nível adequado para completar todos os desafios ao chegar pela primeira vez em um local.
Missões secundárias também fazem sua presença, porém, é de longe o ponto mais baixo de todo o jogo. Trazendo um formato simples, a maioria das missões secundárias envolvem ir até o ponto A, matar um monstro ou encontrar um item específico, e entregar a um npc no ponto B. Não que esse sistema não funcione em outros jogos, mas os diálogos sendo inteiramente por texto e a história por trás dessas missões serem desinteressantes ou pouco relevantes para o enredo acabam tornando as sides de Visions of Mana um ponto negativo.
Claro, algumas missões secundárias nos dão mais contexto sobre o dia-a-dia dos cidadãos em seus respectivos vilarejos, detalhes sobre acontecimentos passados que são citados durante a história, ou até mesmo histórias um pouco mais trabalhadas e que tenham uma boa conclusão, porém a quantidade massiva de sides desinteressantes acabam desmotivando a procura pelas boas missões.
Combate e sistema de classes
Sendo um RPG de ação, Visions of Mana nos apresenta um combate extremamente fluído e responsivo, no qual o jogador pode controlar até 3 personagens. Os combates em sua maioria das vezes são extremamente rápidos e dão um show de efeitos visuais, tornando tudo muito dinâmico. As batalhas de chefe são um show a parte, com chefes extremamente bem detalhados e que nos desafiam com mecânicas únicas e criativas, obrigando o jogador a explorar muito bem o sistema de classes para obter vantagem em batalha.
Todos os monstros de Visions of Mana exalam cores vivas e o design único característico da franquia Mana, novamente trazendo a tona a importância de uma boa direção de arte.
Falando no sistema de classes, Visions of Mana apresenta um sistema simples, porém efetivo, que se baseia em elementos e diferentes armas para cada um dos personagens. Durante a jornada, adquirimos itens conhecidos como vessels, cada um representando um dos elementos presentes no mundo do jogo.
Ao equipar o vessel elemental em um personagem, sua classe será alterada, concedendo habilidades únicas baseadas em seu elemento e alterando sua arma principal. Cada personagem possui classes diferentes atreladas ao mesmo elemento, como por exemplo, ao equipar o vessel do vento em Morley, sua classe é alterada para samurai, uma classe DPS baseada em golpes rápidos e precisos.
Já ao equipar o vessel do vento em Julei, sua classe é alterada para sage, uma classe de suporte inteiramente focada em curas, escudos e magias de efeitos para seus aliados.
Apesar de alterar a classe, arma principal e habilidades únicas ao ser equipada em cada um dos personagens, todos os vessels possuem uma habilidade especial única para o botão R2, que será mantida não importando qual personagem esteja com o respectivo vessel equipado. Como por exemplo, o vessel da lua tem o poder de parar o tempo em uma determinada área, paralisando os inimigos e abrindo brechas para combos, já o vessel da escuridão pode puxar ou empurrar os inimigos.
Além das habilidades elementais únicas, habilidades extras chamadas de seeds também podem ser equipadas, sendo adquiridas como recompensas de missões secundárias, baús do tesouro ou ao derrotas alguns chefes. Cada personagem conta com até 4 slots de habilidades de uso rápido durante o combate, dando ao jogador o total de 12 habilidades para usar durante as batalhas, entre magias elementais, curas e escudos.
Habilidades passivas como aumento de força, HP, MP e demais status também podem ser desbloqueadas e equipadas, aumentando e muito a quantidade de builds possíveis para cada um dos personagens. O sistema de Visions of Mana, apesar de simples, agrada jogadores dos mais variados estilos de jogo, já que todos os personagens são extremamente versáteis e possuem mais de um estilo de jogo.
Já o sistema de equipamentos não tem profundidade, sendo quase que inteiramente baseado em comprar novos itens de NPCs vendedores de tempos em tempos, ou encontrar equipamentos mais poderosos em baús ou como recompensas de desafios. O sistema de progressão também é linear, seguindo o clássico sistema de exp após o final do combate, que pode ter seu multiplicador aumentado com o uso de itens que duram uma certa quantidade de tempo.
Habilidades de vessels também tem seu uso durante a exploração dos mapas, já que algumas áreas só são acessíveis após adquirir um de seus poderes. O uso dos vessels nos mapas adiciona mais uma camada para a exploração, já que áreas antes inacessíveis podem finalmente ser descobertas com o uso de uma habilidade elemental.
Trilha sonora e aspectos técnicos
Mantendo a tradição dos RPGs da casa, Visions of Mana tem uma trilha sonora magnífica, com faixas extremamente marcantes e que dão o tom perfeito para as cenas, seja para os momentos de porradaria, cômicos ou de drama. Os efeitos de som também cumprem extremamente bem a sua parte, com um show sonoro para todas as habilidades e dos elementos do ambiente.
Já no quesito técnico, Visions of Mana entregou uma performance satisfatória, sem quedas de FPS, bugs ou problemas que pudessem de alguma maneira atrapalhar minha jornada. Ao menos no PS5, o título passou por um bom trabalho de otimização e bug fixing.
Mas eaí, vale a pena?
Visions of Mana, honestamente, é uma recomendação fácil para qualquer amante de RPGs japoneses e jogos da Square-Enix, sendo uma excelente porta de entrada para a franquia e um título que promete carregar o legado da franquia Mana para novos ares. Com um combate prazeroso, gráficos lindíssimos e uma história emocionante e cheia de reviravoltas, Visions of Mana se tornou com facilidade um dos meus jogos favoritos do ano.
Apesar de alguns deslizes, principalmente no que diz respeito as missões secundárias, todos os outros pontos positivos acabam abafando os seus poucos defeitos, tornando Visions of Mana um jogo único, e que ganhou um lugarzinho especial no meu coração.
Esse review de Visions of Mana foi escrito através de uma cópia de review gentilmente cedida pela Square-Enix para PS5.