Fallout é uma das franquias mais importantes da história dos jogos, tendo sido muito relevante para o desenvolvimento de RPGs de mundo aberto, emplacando títulos como o excelente Fallout: New Vegas. Agora, a franquia caminha em direção à marca de presença na indústria audiovisual com uma das melhores adaptações dos últimos anos.
Uma trama familiar
A série Fallout inicia de forma semelhante aos jogos, nos apresentando ao evento catastrófico que foi a sequência de bombas atômicas lançadas nos Estados Unidos da América, o evento central que transforma o ambiente no local conhecido como Ermos (ou Wasteland). A concepção de um evento desse tipo já estava sendo considerada pelo governo americano, que tinha tomado ações preventiva que incluem contratar a Vault-tec que tem o objetivo de assegurar a sobrevivência da humanidade e a história da série começa 200 anos depois este evento.
A solução da Vault-Tec consiste no desenvolvimento de refúgios (ou vaults), destinados a abrigar uma pequena parcela da população estadunidense. Assim, somos apresentados a um desses refúgios 200 anos após a queda das bombas: o Refúgio 33. Nele, conhecemos uma de nossas protagonistas, Lucy MacLean, que nasceu e cresceu nesse ambiente isolado do mundo exterior ao lado de seu pai, Henry MacLean, e de seu irmão, Norm MacLean. No entanto, uma série de eventos trágicos ocorre em seu refúgio, resultando no sequestro do pai de Lucy. É então que nossa protagonista decide aventurar-se nos Ermos em busca de salvar seu pai e retornar ao Refúgio 33.
O universo de Fallout é vasto, proporcionando uma ampla gama de possibilidades para o desenvolvimento de histórias, desde que os pilares estabelecidos pelos jogos sejam respeitados, e a série faz isso de forma magistral. Sua trama, embora lembre uma mistura de alguns enredos da série de jogos, mantém uma originalidade marcante e é habilmente contada por meio de seus personagens e suas jornadas, mantendo o público cativado de um episódio ao outro. Além disso, a série se destaca pelas excelentes atuações, além de incorporar com maestria a violência e o humor ácido característicos dos jogos.
Um Elenco de personagens marcantes
A história possui um segundo e terceiro núcleo que se desenvolve através de outros personagens, como Maximus e Cooper Howard que assim como Lucy, possuem suas motivações e objetivos nos Ermos, além de precisarem lutar para sobreviver nesse ambiente hostil mas não demora muito até o caminho desses personagens se cruzarem e seus objetivos entrarem em conflito.
Lucy McLean (interpretada por Ella Purnell) é uma personagem com princípios firmes e uma personalidade marcante, moldada por tudo o que aprendeu no Refúgio 33, Lucy é a personagem que tem o melhor desenvolvimento durante a série. Sua inocência cômica proporciona momentos únicos, e ela desempenha um papel crucial ao fazer perguntas pertinentes sobre o mundo pós-guerra, guiando e introduzindo o telespectador. Contudo, a personagem não faz perguntas suficientes, o que deixa algumas coisas sem explicação para aqueles que não conhecem o universo.
Por outro lado, Maximus (interpretado por Aaron Clifton Moten) está intimamente ligado à violência. Como um soldado novato da Irmandade de Aço, ele possui um forte senso de autopreservação e nem sempre age de acordo com os ideais honrados que a Irmandade preza. Maximus parte como escudeiro ao lado de seu cavaleiro, Titus, em uma missão para encontrar um cientista fugitivo do Enclave que roubou tecnologia vital para o futuro da humanidade nos Ermos. Embora seja habilidoso, Maximus é retratado como um personagem um tanto superficial, carente de profundidade em comparação com os outros protagonistas.
Por fim, é indiscutível que quem rouba a cena facilmente é o Ghoul, ou melhor, Cooper Howard (interpretado por Walton Goggins). Este personagem é uma peça fundamental da trama, tanto por causa de seu passado associado à Vault-Tec quanto por seus objetivos obscuros no presente, que incluem a busca pelo mesmo cientista fugitivo. Suas interações com os outros protagonistas são excelentes, frequentemente colocando-o em uma posição de antagonista em diversos momentos. Cooper exala carisma e humor em todas as suas aparições, adicionando uma dimensão cativante à narrativa.
Onde mora a adaptação?
Realmente impressionante como a série de Fallout consegue ser uma adaptação audiovisual que encapsula de forma tão precisa a essência da franquia Fallout em todos os aspectos. Desde a ambientação até a fotografia de alta qualidade, e indo além, com cenas em plano aberto que enfatizam a devastação provocada pelas bombas atômicas. Isso tudo, somado a uma trilha sonora clássica que inclui músicas dos jogos, cada elemento contribui para criar uma atmosfera verdadeiramente única.
Além disso, a série apresenta uma fidelidade impressionante em relação aos objetos icônicos da franquia, como os itens consumíveis como stimpaks e jetlag, bem como as imponentes armaduras T-60 da Irmandade de Aço. A sociedade disfuncional é retratada de forma vívida, e tanto o figurino dos personagens quanto a maquiagem dos Ghouls, os terminais e o Pip-Boy são reproduzidos com precisão. São inúmeros detalhes, pequenos e grandes, e referências aos jogos que se somam para criar uma experiência audiovisual que é Fallout a todo momento.
Vale a pena assistir a série de Fallout?
Sem dúvida! Embora a série de Fallout possa falhar em explorar completamente alguns temas e fundamentos do universo, sua história é excelente e é habilmente contada por meio dos eventos que envolvem seus protagonistas. Mesmo Maximus, que é o menos desenvolvido, tem uma trajetória interessante. Além disso, a trama continua a apresentar mistérios e questões instigantes ao longo de seus oito episódios, mantendo o espectador cativado sem nenhum momento de arrasto.
Tudo isso somado a uma adaptação fiel do universo de Fallout, dando a devida atenção aos espectos visuais, tanto em ambientação, como nos objetos espelhadas pelo ambiente como uma ênfase em referências discretas e indiscretas do universo. O melhor de tudo é saber que a série já tem uma segunda temporada garantida.
