STALKER 2: Heart Of Chornobyl é facilmente um dos jogos pelo qual estava mais ansioso em 2024, junto com Metaphor: ReFantazio e Silent Hill 2 e todos esses três cumpriram muito bem as expectativas que tinha sobre eles, mas stalker 2 foi o que mais errou no meio do caminho e por motivos bem mais comum do que deveria ser nesse momento da indústria de games, mas eu vou chegar lá, vamos descobrir no que Stalker 2: Heart of Chornobyl acerta e erra nessa review completa.
Conhecendo a série Stalker
Antes de entrar em detalhes sobre Stalker 2, é importante apresentar a série para aqueles que ainda não a conhecem. Afinal, a franquia nunca foi extremamente popular e, até pouco tempo atrás, só estava disponível para PC.
De forma simplificada, Stalker 2 é um RPG de ação ambientado na região de Chernobyl, mas em uma versão alternativa onde os eventos resultaram na criação de uma “Zona”, repleta de anomalias e fenômenos sobrenaturais. O jogo é fortemente inspirado no livro Piquenique na Estrada, de Arkady e Boris Strugatsky, que também influenciou diversas outras obras em jogos e séries que conhecemos hoje. Em termos práticos, você pode imaginar Stalker 2 como uma versão hardcore de Fallout, com um foco ainda maior na sobrevivência e em elementos atmosféricos.
Apesar de possuir o “2” no título, este é, na verdade, o quarto jogo da série, cujo último lançamento ocorreu em 2009. Stalker 2 foi originalmente anunciado em 2010, mas enfrentou uma trajetória cheia de desafios, incluindo mudanças de estúdio, cancelamentos, inúmeros atrasos e, mais recentemente, a conclusão do desenvolvimento durante a invasão da Rússia na Ucrânia. Essa resiliência demonstra o compromisso dos desenvolvedores, mas também trouxe complicações que afetaram o produto final, especialmente em aspectos técnicos – sobre os quais comentarei mais adiante.
A História em STALKER 2
Em STALKER 2, assumimos o papel de Skif, um homem comum que teve seu apartamento destruído por uma anomalia que deixou um minério azul brilhante em sua lavanderia. Frustrado com os eventos que lhe ocorreram, Skif decide entrar na Zona para descobrir a origem desse minério e, quem sabe, vendê-lo.
Perceba como estou explicando a premissa inicial sem muita certeza do que ocorreu e das motivações do personagem? Isso ocorre porque, no jogo, o início é bastante conturbado, com uma série de eventos que não se conectam direito entre si, fazendo com que nós, jogadores, precisemos supor muitas das motivações do personagem até entendermos o porquê e para quê estamos fazendo o que fazemos.
Essa é a principal crítica à história, que dura aproximadamente umas 10 horas. Você não sabe direito por que entrou na Zona nem qual é o objetivo de Skif. Apesar de, no meio do caminho, a história ganhar profundidade, personagens e um propósito grandioso e interessante, é possível que as 10 primeiras horas não sejam o suficiente para prender alguns jogadores que gostam de objetivos e histórias esclarecidas. Mas, no final, apesar disso, eu gostei bastante do que foi contado aqui e, mais do que na trilogia inicial, a história é lenta, mas interessante, e conquista o jogador aos poucos, tornando as missões finais épicas.
Outras escolhas são mais óbvias, mas com isso, nos tornamos um STALKER na Zona, uma espécie de figura que explora as regiões e as anomalias em busca de relíquias que podem ser tesouros a serem vendidos ou realizando uma série de serviços para pessoas e diferentes organizações infiltradas na Zona. Iremos descobrir seus segredos, exterminá-las ou nos aliar a elas até a reta final, que pode levar em torno de 20 a 25 horas apenas para a campanha principal. STALKER 2 é um jogo que exige paciência e dedicação, mas recompensa o jogador com uma experiência imersiva e desafiadora.
Estrutura de STALKER 2
O jogo funciona de forma semelhante a RPGs da Bethesda, como Fallout 4, mas com uma pitada de Baldur’s Gate 3. A estrutura principal se baseia em missões principais e secundárias, que conduzem o jogador de um ponto A a um ponto B na história. Contudo, Stalker 2 mantém a essência da série, priorizando a liberdade do jogador. Aqui, você terá inúmeras escolhas e renúncias ao longo do caminho, mas o jogo raramente deixa explícito que você está tomando uma decisão.
Um exemplo prático ocorre no início, ao chegarmos ao primeiro assentamento. Presenciamos um conflito entre dois personagens: o “Pai”, um Stalker experiente que agora atua como mentor de novatos, e um General da “Ala”, uma organização paramilitar com objetivos secretos. A cena estabelece que ambos estão procurando pela mesma pessoa. Assim que o evento se desenrola, cabe ao jogador decidir seguir o rastro do General ou do Pai. Percebe como o jogo apresenta escolhas importantes sem necessariamente “esfregá-las na sua cara”?
Esse é o elemento de role-playing mais interessante do jogo: a liberdade de conduzir a história da forma que você desejar. Por exemplo, é possível exterminar toda a “Ala” e seguir com a campanha sem realizar missões secundárias ou se envolver em conflitos com aquela facção. Essa estrutura remete bastante a jogos como Fallout: New Vegas, onde a liberdade de role-playing é essencial para a progressão.
A Zona de Exclusão de Chernobyl é o nosso palco
Outro elemento importante na estrutura de Stalker 2 é a exploração. Nosso palco é a Zona de Exclusão em Chernobyl, um lugar repleto de mutantes, ladrões, facções — algumas aliadas, outras corrompidas —, radiação e anomalias. Esses elementos formam o mapa aberto do jogo, enriquecendo os percursos que precisaremos atravessar. Vale destacar que, por se ambientar em uma única região, o jogo não apresenta grandes variações de cenário. No entanto, o estúdio fez um excelente trabalho ao criar elementos que transmitem a sensação de progressão e facilitam o reconhecimento de áreas específicas. Por exemplo, o Lixão é uma área bem característica, com suas montanhas de lixo e grandes fábricas abandonadas.
Ao longo da jornada, realizaremos diversas missões principais e secundárias que frequentemente nos obrigam a voltar a locais já explorados. Isso ocorre porque o jogo não possui sistema de viagem rápida, o que significa que precisaremos percorrer grandes distâncias manualmente. Durante esses deslocamentos, podemos ser surpreendidos por eventos aleatórios, inimigos ou novas anomalias escondidas no cenário.
As anomalias são forças que interagem com o ambiente, criando eventos únicos em determinadas áreas. Um exemplo interessante é um prédio onde o chão, coberto por pequenos buracos, invoca torres de chamas quando nos aproximamos. Essas anomalias podem ser detectadas e, geralmente, têm formas específicas de serem enfrentadas. No entanto, o jogo não fornece instruções claras sobre como atravessá-las. Cabe ao jogador observá-las, experimentar diferentes abordagens e superar os desafios por conta própria. Muitas dessas anomalias protegem relíquias, materiais extremamente valiosos que oferecem melhorias importantes para a progressão do personagem. No entanto, coletá-las vem com um custo: um aumento na radiação acumulada. Em Stalker 2, nada é conquistado sem um preço.
Jogabilidade e sistemas de progressão
Em termos de jogabilidade, Stalker 2 é um jogo de tiro em primeira pessoa que permite o uso de armas brancas ou de fogo para eliminar os inimigos que surgem em nosso caminho. O combate é um dos destaques do jogo: é cadenciado, tenso e desafiador, o que eleva o nível de imersão. Cada inimigo representa uma ameaça única, e mesmo confrontos aparentemente simples podem ser mortais. Por exemplo, você raramente enfrentará hordas de soldados, mas apenas dois inimigos armados já são o suficiente para transformar o combate em um desafio estratégico e perigoso.
Além do combate, a exploração — como discutido anteriormente — desempenha um papel essencial. Coletar itens e recursos como armas, comida, água e munição é crucial para sobreviver e progredir, especialmente ao explorar áreas mais perigosas. No entanto, é vital manter um inventário bem balanceado, pois o jogo utiliza um sistema de peso. Carregar itens em excesso pode deixar seu personagem extremamente lento, dificultando movimentação e combates. Outro aspecto importante é a necessidade de gerenciar a condição física de seu personagem. Será preciso comer, beber água e descansar para manter Skif em bom estado, o que adiciona uma camada de sobrevivência ao jogo.
Os equipamentos também desempenham um papel central na progressão. Durante a jornada, encontraremos uma variedade de armas reais, que podem ser modificadas com itens como cabos aprimorados ou silenciadores, melhorando seu desempenho. Porém, é necessário manter essas armas em boas condições, já que elas podem emperrar ou quebrar durante os combates se não forem reparadas. Além das armas, há diferentes tipos de roupas que funcionam como armaduras. Elas possuem atributos específicos que fornecem proteções variadas, como resistência a balas ou anomalias. Assim como as armas, é essencial consertar essas roupas regularmente para garantir sua eficácia durante os confrontos mais intensos.
De forma geral, Stalker 2 adota sistemas simples, mas altamente funcionais dentro de sua proposta como um FPS de ação. Ao contrário de muitos RPGs mais complexos, aqui você não passará muito tempo navegando por menus, escolhendo habilidades ou criando builds detalhadas para o personagem. O foco está na preparação prática para cada missão, utilizando os recursos que você coletou ao longo da exploração.
Aspectos técnicos e Acessibilidade
Não há como abordar Stalker 2 sem reconhecer o contexto complicado em que foi desenvolvido. O jogo foi concluído em meio à invasão da Rússia à Ucrânia, um evento que claramente impactou o cronograma e a produção. Essa situação inevitavelmente resultou em atrasos no lançamento e comprometeu alguns aspectos do produto final. Embora tenha conseguido jogar de maneira relativamente estável, fica evidente que o jogo precisava de mais tempo de polimento.
Testei o jogo em um sistema equipado com Ryzen 5600X e RTX 4060 Ti (8GB), que deveria ser mais do que suficiente para uma experiência fluida. No entanto, enfrentei problemas significativos de stuttering, mesmo nos gráficos configurados no nível mais baixo. Além disso, a iluminação apresentou inconsistências irritantes: áreas escuras ficavam estranhamente iluminadas, enquanto locais que deveriam ser claros pareciam opacos.
Outro ponto frustrante foram os bugs relacionados ao stealth. Os inimigos pareciam possuir “olhos nas costas”, detectando minha presença de distâncias absurdas e, em alguns casos, até mesmo debaixo da terra! Essa falha tornou inviável o uso de abordagens furtivas, o que prejudica a imersão e as estratégias que poderiam diversificar o gameplay.
Já no quesito acessibilidade, o jogo deixa a desejar: a única opção disponível é um ajuste de cores para pessoas daltônicas, o que é insuficiente considerando os padrões atuais da indústria. Embora esses problemas sejam notáveis, há esperança. Melhorias na performance, correção de bugs e aprimoramentos na acessibilidade podem (e provavelmente serão) introduzidos por meio de patches futuros, uma prática comum na indústria. Ainda assim, a experiência inicial pode ser frustrante para jogadores que esperavam um lançamento mais polido.
O Review
STALKER 2: Heart Of Chornobyl
Apesar dos desafios técnicos, STALKER 2 me conquistou por sua atmosféra e mecânicas de RPG envolventes. O jogo entrega uma experiência única ao combinar exploração, combate intenso e decisões impactantes em um cenário denso e imersivo: a Zona de Exclusão de Chernobyl.